Atividade livreira sofre perdas drásticas, provocando problemas de tesouraria, mudança de estratégias e redução de títulos no mercado.
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Nas próximas semanas serão poucos os novos títulos que chegarão às livrarias. A quebra de vendas ditada pela atual situação de emergência, num setor já de si fragilizado, preocupa editores e livreiros e obrigou a um repensar de estratégias editoriais. Alguns simplesmente cancelaram todos os lançamentos previstos para este mês e o próximo, enquanto outros optaram pela redução do número dos novos títulos já programados. Várias pequenas livrarias independentes encerraram ao público, assim como duas das maiores cadeias de vendas de livros: Bertrand e FNAC.
O primeiro sinal foi dado pela Penguin Radom House, o gigante editorial norte-americano, que em Portugal congrega as chancelas Alfaguara, Companhia das Letras, Objectiva, Suma de Letras, Arena, Nuvem de Letras e Nuvem de Tinta. "Entendemos que o caminho mais sensato passa por adiar a publicação de todas as novidades que estavam previstas para as próximas semanas", adiantou o grupo em comunicado.
Queda "muito grande"
"Em termos de atividade livreira houve uma quebra muito grande nas últimas semanas. As vendas caíram drasticamente. Esta é a informação que nos chega dos livreiros nossos associados. Mas ainda não temos números para avaliar esse impacto", disse ao JN João Alvim, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
"Se a situação se prolongar não é só o setor livreiro que sofrerá. Os danos atingirão também o setor editorial. As livrarias vão ficar sem tesouraria com todas as consequências que isso acarreta". Ontem, a Ministra da Cultura explicou que as livrarias vão poder estar abertas, durante o estado de emergência, se venderem através de postigo (ver caixa).
de 4o para 12 títulos
Também Jona Freitas, da editora 2020 (Top Seller, Cavalo de Ferro) reconhece que o grupo se viu obrigado a mudar de estratégia. "Se antes prevíamos uma média de 40 lançamentos mensais, no conjunto de chancelas, agora estamos a pensar em apenas 10 ou 12. Atendendo à quebra de procura não faz sentido mantermos o mesmo ritmo de novidades no mercado", explicou.
A Relógio D"Água também já repensou os seus projetos, tendo em conta a inevitável quebra de vendas. "Vários lançamentos foram adiados, desde obras de clássicos, antigos ou contemporâneos. O mesmo sucede com obras atuais", adiantou o editor Francisco Vale. Idêntica medida foi adotada pelo Grupo Saída de Emergência, que decidiu suspender o lançamento de todas as novidades agendadas para as próximas semanas, por tempo indeterminado. A Bertrand Editora (detentora das chancelas Bertrand, Quetzal, Temas e Debates, Pergaminho, Arte Plural, Gestão Plus, Contraponto, 11x17 e Verso da Kapa) decidiu simplesmente suspender a publicação e novos livros até ao final de abril.
Mais otimista, o Grupo Porto Editora, pela voz do seu diretor de comunicação, Paulo Gonçalves, garante que as equipas do grupo continuam a trabalhar, mas admite que terão também de redefinir o plano de edições das próximas semanas.