Reeditado e adaptado: Nick Cave regressa com "A Morte de Bunny Munro" em livro e série

Nick Cave regressa à literatura com "A Morte de Bunny Munro", um romance que nunca deixou de ecoar - mesmo quando ausente das prateleiras. Publicado originalmente em 2009, o livro é relançado na próxima terça-feira, 26 de agosto de 2025, pela Casa das Letras, depois de anos fora de circulação. O regresso coincide com a estreia iminente da sua adaptação televisiva, protagonizada por Matt Smith, e devolve à paisagem literária uma obra que continua a perturbar pela crueza emocional e pela forma como expõe os escombros da masculinidade.

O romance acompanha a descida de Bunny Munro, vendedor de cosméticos e sedutor compulsivo, que parte numa viagem pela costa sul de Inglaterra com o filho de nove anos, após o suicídio da mulher. O que começa como fuga transforma-se numa espiral de delírio, desejo e assombração. Bunny é grotesco, vulnerável, por vezes patético. Seduz, mente, escapa. Bunny Júnior observa, espera, aprende. Entre os dois, forma-se uma ligação frágil, feita de silêncio, enciclopédias e sobrevivência emocional.

À medida que a viagem se torna mais frenética, os fantasmas do passado emergem: pais decrépitos, maridos ciumentos, espíritos vingativos e um assassino com chifres. Mas o verdadeiro confronto é interior - com a culpa, o fracasso e a paternidade.

Descrito por Irvine Welsh como uma improvável fusão entre Cormac McCarthy, Franz Kafka e Benny Hill, o romance de Cave é ao mesmo tempo grotesco e terno. Uma meditação sobre a masculinidade em ruínas, sobre o amor entre pai e filho, e sobre o preço da fuga. A escrita é crua, lírica, por vezes febril, e confirma a capacidade de Cave para transitar entre palco e página com a mesma intensidade poética.

A adaptação televisiva, protagonizada por Matt Smith ("The Crown", "House of the Dragon"), será exibida no canal Sky Atlantic. A realização está a cargo de Isabella Eklöf, com argumento de Pete Jackson. Os dois primeiros episódios terão estreia especial no Festival de Literatura do Southbank Centre, em Londres, a 30 de outubro. A banda-sonora é assinada por Nick Cave e Warren Ellis, dupla que já colaborou em "A Estrada" (2009) e "Back to Black" (2024), e cuja música promete intensificar o tom sombrio e melancólico da narrativa.

Mais do que uma reedição, "A Morte de Bunny Munro" regressa como espelho de um tempo em que a figura masculina se vê obrigada a confrontar os seus próprios escombros. Cave, que há décadas escreve sobre fé, perda e desejo, oferece aqui um romance que não procura respostas, apenas a coragem de olhar para o abismo.