Três grandes concertos com The Heads marcam, para já, o terceiro dia do Milhões de Festa em Barcelos. Rock em estado puro já fez valer o fim-de-semana alargado.
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"The Heads! The Heads! The Heads". Terminou assim o concerto de rock psicadélico-metaleiro dos quatro simplistas britânicos. H.O. Morgan, frontman sem voz de baixo em riste, alto em volume para se adaptar à moda. Bate no instrumento de cada vez que muda de acorde.
Ao lado, Simon Price usa a guitarra para fazer de fundo nos momentos progressivos, e solo quando o êxtase se aproxima. E aqueles solos, como o do fim do concerto, de luzes brancas em ventoinha a acompanhar, valem tanto. Leva tempo, claro, com músicas longas. Com 26 anos de carreira há que se dar ao luxo de chegar lá com calma. E evolui com tempos, que aqui ainda os há, embora a moda, agora, seja não os usar. São sagrados, senhores. E viam-se cabeças, muitas. A empurrar para a frente a cada segundo e distorção de Simon Price, invasor de um baixo pujante. A progressão também acontece nos temas: o concerto acabou claramente a roçar a metal.
A evolução é maior na bateria. Wayne Maskell começa o concerto em contratempos calmos e acaba a bater em tudo ao mesmo tempo, de expressão excitada e a adorar as gentes barcelenses. Ressalva ainda para Paul Allens, o mais mediático e conhecido do grupo, de guitarra engraçada e efeitos pertinentes. Completa o quarteto de melhores músicos que passou pelo Milhões até agora.
Antes houve Sun Araw em trio, que vive de composições pouco arrojadas, psicadélicas, de entrelaço engraçado mas contemporâneo e experimental demais para as 22 horas com que os recebeu o Milhões de Festa. Sun Araw, ou Cameron Stallones, é para ver sentado ou em sala fechada. O público deitado na relva a abanar a cabeça assim o dita, e apenas dez convertidos ousaram ouvir o concerto junto às grades com pouca dança.
De arranque à segunda tentativa - problemas de sobreaquecimento na mesa de som obrigaram à retirada de palco e reentrada passados 15 minutos - Sun Arrow flui com uma evolução desconstruída que nos entra pela cabeça dentro. A guitarra, quando surge, vale o concerto todo tal é estonteante a forma como a simplicidade de acordes encaixa naquela coisa experimentalista tribal.
Sun Araw é concerto que pouca gente terá gostado pela indisfarçável melancolia que os acompanha. Ainda assim, vibrante e feroz à sua maneira, o americano passa com nota positiva pelos onze álbuns que trouxe na bagagem, editados desde 2008.
Já de Domenique Dumont não se sabe muito. A identidade da performer que atuou antes de The Heads e depois de Sun Araw era uma perfeita incógnita, e que atire a primeira pedra aquele que conhece o cartaz completo do Milhões de Festa, local onde vamos para sermos surpreendidos musicalmente.
Domenique Dumont entra para essa já longa lista de bons concertos do festival de Barcelos, com pop eletrónica no bilhete de passagem para a lista dos best of Milhões de Festa 2016. A progressividade daquele pop sintético, progressivo q.b. e pincelado a guitarra solo é música boa. Talvez muito boa. Domenique Dumont sabe estar na mesa, bem acompanhada por um cardápio bem composto, e põe a manada hipster a dançar. Excelente estreia para o palco Lovers na terceira noite de festival.