No Porto, esta quarta-feira e a 1 de junho em Lisboa, o coletivo de Pierre Aderne volta a celebrar a música lusófona.
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De noites espontâneas feitas de encontros musicais, na casa de Lisboa do luso-brasileiro Pierre Aderne, nasceu um verdadeiro fenómeno da lusofonia: Rua das Pretas, um conjunto de artistas a viajar por sons e estilos, que se transformou em disco e depois em digressão mundial, está de volta aos Coliseus. Os concertos acontecem no Porto, esta quarta-feira, 24 de maio, e no Coliseu de Lisboa, a 1 de junho.
Pierre Aderne, artista que se radicou em Lisboa há uma década, é o homem por detrás do coletivo que foi buscar o nome à rua alfacinha onde tudo começou. Neste regresso aos Coliseus - numa altura em que a RTP acaba de transmitir uma série sobre as anteriores passagens pelas mesmas salas - Aderne, Nilson Dourado, Walter Areia e vários convidados por noite levam o público para um espaço intimista. Aqui, relembram-se as músicas escritas por Pierre para António Zambujo e Seu Jorge, entre canções dos seus duetos com Tito Paris, Jorge Palma, Sara Tavares, Cuca Roseta, Gisela João, Rita Redshoes, além de clássicos do fado e da bossa nova.
O fenómeno começou há já uma década: primeiro no Brasil, depois na Rua das Pretas em Lisboa, onde por tertúlias de música e de histórias, regadas a conversa e a vinho, passaram nomes como Ana Moura, Carminho, Tito Paris, Camané, Salvador Sobral, Gilberto Gil, Caetano Veloso, ou Melody Gardot. Os encontros foram crescendo, os espaços também, e depois de a Rua das Pretas se mudar para um palacete no Príncipe Real viu por lá passarem mais de cem artistas e de três mil visitantes. Pelo meio, vieram discos, tours e a aclamação internacional.
"Tudo começou no Rio, na verdade. Quando eu não estava a fazer concertos ou gravar, eu fazia encontros em casa no Rio de Janeiro, tinha essa cultura de juntar amigos da música, poetas, escritores, atores. Quando vim para Lisboa e morava na Rua das Pretas, eu continuei a fazer isso", começa por contar ao JN. "Até que uma noite, com muita gente em casa, como o Caetano, o Gil, a Carminho, um fotógrafo tirou uma foto e perguntou o que havia de escrever e eu disse 'coloca o hashtag 'Rua das Pretas''. E quando postou no meu Instagram, eu tenho um seguidor do Japão que partilhou escrevendo em inglês, 'se alguma vez forem a Lisboa, vão a este amazing, acoustic jazz club', adianta.
Foi então que a sua produtora e companheira, se lembrou: "ela disse, olha que ideia boa, sabe aquelas noites, que acabam com 40 garrafas de vinho vazias? Vou passar a marcar com entradas". Começaram os encontros regulares e as noites cada vez mais concorridas. Um visitante chamava outro, ambos voltavam e traziam mais, o espaço era cada vez menos e a cada ocasião alguém oferecia uma casa maior. "Até que um dia um francês ofereceu o seu palacete no Príncipe Real", lembra Aderne. Eram para ficar semanas, foram ficando, com a procura e o mito a crescerem - até que numa noite um dos visitantes ofereceu também a "sua casa"; mas era Ricardo Covões e a casa era o Coliseu dos Recreios.
"Os convites foram-se multiplicando, primeiro para teatros portugueses e Paris, Madrid, Pequim", lembra o músico. Na prática, o grupo mantém a cada evento o núcleo duro do coletivo mas os convidados variam, havendo o fator improviso, surpresa, "o muitas vezes sem ensaio". "Quanto me perguntam quem vai no próximo concerto, eu respondo: a Rua das Pretas'", frisa Aderne. Assim será nas novas datas, onde estão então prometidas surpresas, mas duas são-nos adiantadas. Isto porque, dois dias depois do Coliseu do Porto, o músico lança um novo disco, "Mapa dos Rios, feito com Moacyr Luz, que escreveu para nomes como María Bethânia ou Martinho Da Vila. "Ele é o criador do Samba do Trabalhador, que é o movimento mais importante do samba brasileiro", lembra Aderne. Moacyr estará assim no Porto, bem como Paulo Praça, que compôs há um ano, nas caves da Niepoort. uma música para a cidade, chamada "Tesouro".
No concerto da Invicta, ela será lançada com um Porto Tawny, uma ideia de Pierre com o seu amigo Dirk Niepoort: uma edição onde as garrafas têm QR Code que dá acesso à música e vídeo, para ouvir "Tesouro" "enquanto se bebe um copo".