
"All over Nymphéas" de Emmanuel Eggermont
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Emmanuel Eggermont trouxe uma das propostas mais elegantes do Festival Dias da Dança (DDD).
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Emmanuel Eggermont foi um dos intérpretes do histórico Raimund Hoghe, com o qual chegou a participar, em edições anteriores do Festival DDD patente até domingo. Com o falecimento do coreógrafo decidiu encontrar a sua própria voz e apresentar "All over Nymphéas",e dedicar-lhe a obra, em cena, esta semana no Teatro do Campo Alegre, no Porto.
Com uma referência direta à História da arte e às pinturas de Claude Monet, antídoto para a negritude das atrocidades bélicas da I Guerra Mundial, e aos seus nenúfares do seu jardim de Giverny, montou um dispositivo cénico de um jogo de tangram azulão.
Como num paliativo para a negritude da vida, envergada em armíferos uniformes negros desfilando numa rigidez entre a parada e a passarela, começam a surgir vislumbres de azul e de verde. A ambiência sonora construída por Julien Lepreux, leva o espectador numa onírico e contemplativo cenário onde vão aparecendo intérpretes envergando silhuetas de flor.
Na cenografia há um efeito de maravilhamento como o ouro que pode ser um corpete, ou um pedaço de lixo, assim como um filtro de luz que envolve os intérpretes. Citando Campoamor: "No mundo nada é verdade nem mentira: tudo depende da cor do cristal com que se mira". Aqui a dominante são os azulados de Monet.
Sem movimentos ríspidos e numa contínua locomoção, nada está em excesso ou é destemperado, numa procura constante pelas diagonais e uma assinatura de braços e de mãos inconfundível, tornando-se desmesurados Eggermont consegue um movimento único, natural, ondulado como água.
Como se existisse uma dissociação entre as pernas como raízes sempre em contacto com o chão e os braços aspirando a algo superior.
Desmontando o tangram, os nenúfares e as suas flores, por vezes recriando jogos lúdicos infantis, como um andar sobre os pés de outrem ou o mítico movimento de "Morte do cisne", o espectador é transportado para paisagens de personagens nefelibatas.
O espetáculo tem nova récita esta quinta-feira às 21.30 horas, no Teatro do Campo Alegre.

