São José Correia, uma das protagonistas de “A Bela América”, conversou com o JN sobre esta comédia social e terna de António Ferreira.
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Lucas tem talento na cozinha, mas é pobre. Quando é despejado de casa com a família, é visitado pela equipa de América, uma estrela de televisão candidata a presidente. Lucas decide entrar sorrateiramente na casa dela e seduzi-la com os seus pratos sofisticados. América vai revelar finalmente quem ela é…
É esta a trama de “A Bela América”, a comédia social e terna de António Ferreira, realizador conimbricense de “Pedro e Inês” e “Esquece Tudo o que Te Disse”.
A atriz principal, São José Correia, falou ao JN na antestreia do filme, durante o TV Cine Fest. “A Bela América” já está nos cinemas.
Com mais de 20 anos de carreira, São José Correia é bem conhecida dos portugueses, sobretudo pelos seus trabalhos na televisão. Notabilizou-se como “a má da fita”, mas agora surge-nos num registo de comédia. “Eu sou um bocado mais dramática. Sinto-me melhor no drama do que na comédia”, assume em conversa ao JN. “Mas este filme não é para rir à gargalhada, muitas vezes temos sorrisos tristes. O António Ferreira descreve-o como uma comédia triste. O riso vem do falhanço das próprias personagens. A comicidade está na cabeça do espetador.”
Apesar do lado vilão da personagem, o filme consegue humanizar esta América. “É muito real, é o que nos acontece na vida”, explica a atriz. “Começamos com grandes ambições e cheios de nós próprios. Achamos que vamos conseguir e por vezes a vida diz-nos o contrário. E quando começamos a levar pancada a sério, descemos à terra. É o que acaba por acontecer à América. Eu adorava ver um segundo filme sobre o que acontece à América depois daquele final.”
São José Correia define assim a personagem de América: “Ela vive numa inconsciência, acha que é idónea. Representa estas pessoas que hoje em dia todos nós conhecemos, que no Instagram ou no Youtube têm 500 mil visualizações e ganham um poder ilusório. E ganham muito dinheiro, porque conseguem publicidade. Mas depois, na verdade, não sabem falar, não estudaram, não têm nenhum tema interessante na vida sobre o qual possam falar. “
Curiosamente, América e a atriz que a representa vêm do mesmo meio, a televisão. “Isso não é demérito para as pessoas da televisão, eu também faço televisão”, diz São José Correia. “Mas ela tem muito sucesso e acha que pode passar para a política. E na verdade o que faz é um aproveitamento da pobreza e da desgraça dos outros. Aproveita-se do Lucas, que ele sim, é um verdadeiro talentoso, mas é um rapaz que nasceu pobre, de uma família pobre, e que não consegue romper, apesar do seu talento.
A atriz faz um paralelo entre a relação das personagens no filme e o que lhe acontece por vezes na vida real. “O Lucas tem uma relação com ela que não existe. É um como quando as pessoas me veem nas novelas e me falam na rua, como se fossem minhas amigas”, explica. “Têm essa sensação porque me veem todos os dias lá em casa na televisão. O Lucas pensa que tem uma relação especial com a América, mas ela aproveita-se dele, é demagogia pura. Ela é um animal muito ambicioso.”
No filme, América acaba por ser seduzida pelos pratos que, em segredo, Lucas confeciona para ela. São José Correia revela a sua relação com a culinária. “Até uma mulher me seduzia se soubesse cozinhar!”, ironiza. “Saber cozinhar é muito difícil. Eu não cozinho, sou simplesmente consumidora. As pessoas que sabem cozinhar, e então como o Lucas, demonstram uma imaginação tremenda. É preciso muita sofisticação. É a prova de que a sofisticação está na nossa cabeça e nasce connosco. Ela tem mais dinheiro, tem a casa boa que ele não tem, mas não é sofisticada como ele.”