Contra todas as expectativas, os irmãos californianos Sparks cativaram o público de várias gerações, protagonizando um dos concertos mais conseguidos do último dia do Primavera Sound.
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A maioria dos jovens que se encontravam sentados nas primeiras filas do Palco Porto ao fim da tarde do último dia do Primavera Sound provavelmente não teria ideia de quem seriam os Sparks, encontrando-se já à espera dos derradeiros concertos da noite da edição deste ano. No entanto, quando Russel Mael chegou ao tema "When Do I Get To Sing My Way", já os tinha de tal forma conquistado que ninguém estava quieto. O espetáculo dos Sparks estava a ser um sucesso.
O primeiro dos irmãos a entrar em cena foi o habitualmente circunspecto Rob Mael, no seu tradicional fato e gravata. Dirigiu-se de imediato para o teclado de onde raras vezes se levantou. Exceção para um dos seus momentos minimalistas e para uma extravagante e contagiante dança.
Russel Mael, de casaca e sapatos vermelhos e calças pretas, funcionou entre o crooner, mestre de cerimónias e estrela rock que também é. Começou por desculpar a intermitência com que se apresenta ao público português, conquistando sobretudo os espectadores portuenses ao sugerir alterar o nome de uma das suas novas canções de "The Girl Is Crying In Her Latte" para "The Girl Is Crying In Her Pingo", que disse ser a sua nova descoberta de cafetaria.
No final, Russel Mael juntou-se ao irmão e à sua banda de apoio para uma fotografia com todo o público presente. Já disponível na página oficial da banda, percebe-se bem que o público se foi juntando, dando a ideia que os Sparks, só por si, seriam facilmente cabeça de cartaz de um qualquer festival de verão.
Ao longo de pouco mais de uma hora e com uma produção de palco simples e eficaz, os Sparks não fugiram ao seu conceito de teatralidade, mostrando no entanto uma total capacidade para eletrizar uma audiência multigeracional, através dos seus ritmos e letras de cadência repetitiva que convidam o público a participar.
Tal deve-se, em grande parte, à eterna energia de Russel Mael, apesar dos seus já 74 anos de idade. Ron, três anos mais velho, defende-se com a sua postura, embora seja clara a sua jovialidade e a energia com que continua a compor música.
Uma parte do alinhamento do espetáculo dos Sparks teve o objectivo de dar a conhecer alguns dos temas do novo álbum da banda acabado de ser lançado, e que intitula precisamente "The Girl Is Crying In Her Latte". Temas como "Nothing Is As Good As They Say It Is" ou "We Go Dancing" mostraram uns Sparks sempre em grande forma. Temas do seu repertório como "Balls", "The Number One Song In Heaven" ou "This Town Ain"t Big Enough For The Both Of Us" permitiram a muita gente perceber melhor quem tinha à sua frente.
Com mais de cinquenta anos de carreira e quase três dezenas de àlbums de estúdio, os Sparks têm partilhado a sua sonoridade em outras áreas como o teatro e o cinema. Por exemplo, "Annette" de Leos Carax, levou-os recentemente à passadeira vermelha de Cannes. Um espetáculo como os Sparks deram no Primavera Sound seria sempre redutor face ao seu impressionante corpo de trabalho. Ficou no entanto, no final, a promessa de um regresso breve a Portugal.