Pandemia pôs Spotify no centro da polémica. Liberdade de expressão e saúde pública exaltam ânimos nas redes.
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Os últimos dois anos serviram para que a sociedade se polarizasse sobre as questões da pandemia e o mundo das artes não foi alheio ao fenómeno. Nas últimas semanas, a face visível do conflito ideológico pôs o gigante sueco de streaming Spotify no centro da polémica.
O músico canadiano Neil Young pediu à plataforma, numa carta aberta que removesse a sua música, acusando o Spotify de ser fonte de desinformação sobre a covid-19 através dos podcasts de Joe Rogan, um comediante americano que conta com 11 milhões de usuários e cujas prédicas estima-se serem descarregadas 200 milhões de vezes por mês. Algo que já tinha sido reclamado por 270 médicos que acusam o programa "The Joe Rogan Experience" de disseminar informação falsa.
Esta semana, Neil Young incitou os trabalhadores do Spotify a demitirem-se dado estarem a ficar "sem alma". A retirada da música de Young teve um efeito dominó: a canadiana Joni Mitchell, o guitarrista Graham Nash, o compositor Nils Lofgren e também a cantora soul americana India.Arie replicaram o gesto. O fenómeno incluiu também o príncipe Harry de Inglaterra e Meghan Markle, que expressaram a sua preocupação à empresa pela desinformação na plataforma, embora tenham assegurado, através de um porta-voz da fundação Archewell que continuam dispostos a trabalhar com ela.
De acordo com a "Forbes", os investidores do Spotify estão preocupados com a controvérsia em curso. O Spotify tem fechado na bolsa com fortes perdas (16,76% na última semana) e com previsão de uma baixa acentuada no primeiro trimestre.
Daniel Ek, fundador desta plataforma de streaming, alegou que apesar do contrato de exclusividade com Joe Rogan no valor de 100 milhões de dólares (cerca de 89,6 milhões de euros), a empresa não tem "controlo editorial" sobre o seu conteúdo. Jair Bolsonaro saiu em defesa de Joe Rogan: "Se liberdade de expressão tem algum significado, é que todos podem dizer o que pensam, não importa se concordam ou discordam de nós", escreveu o chefe do Estado brasileiro, em inglês, no Twitter. Por sua vez, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o Spotify e as redes sociais deveriam ser "responsáveis e vigilantes" acerca da desinformação sobre a pandemia.
LIMPEZA DE IMAGEM
Segundo a política do Spotify, são proibidos conteúdos que incitem a violência ou o ódio ou que promovam informações perigosas ou falsas. Com base nesta premissa foram retirados da plataforma 70 episódios de Joe Rogan, ainda anteriores à pandemia, por conterem linguagem racista. No escrutínio foram também cancelados os podcasts do ensaísta francês Alain Soral, por não cumprir os requisitos. Anteontem, Rogan afirmou: "Eu ganho a vida a dizer disparates. Se seguem os meus conselhos sobre vacinas, será que a culpa é minha?"
Outra das polémicas é que os músicos alegam serem pagos a uma taxa bem diferente do comediante. Os músicos ganham 0,0021 euros por cada stream, enquanto a plataforma fica com 0,0043 euros por cada vez que a sua música é tocada.
Esta semana, o Spotify também foi notícia por ter firmado um acordo com o Futbol Club Barcelona, no valor de 280 milhões de euros.