Spotify é líder do mercado de música online. Compositores queixam-se de baixo retorno.
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Na ótica do ouvinte, o Spotify será a melhor invenção do Mundo: uma aplicação gratuita que possui um catálogo de 78 milhões de canções disponíveis em qualquer altura e que cabe em qualquer computador ou smartphone metido no bolso, basta ter ligação à Internet. O utilizador não é dono desses 78 milhões de temas, não tem de os comprar como antigamente se fazia; ouve tudo em streaming, a forma de distribuição digital de fluxo contínuo popularizada em 2008 pelo serviço sueco Spotify - e em 2014 pelo Tidal ou em 2015 pela Apple Music, ambos dos EUA.
É um serviço boníssimo: podemos ouvir tudo graciosamente, ainda que com interrupções de publicidade e limitações na qualidade de som, ou pagar 6,99 euros por mês (valores para o Spotify, que tem 31% da quota mundial de mercado, e para a Apple, que tem 15%; no Tidal cobra-se 9,99/mês pelo som standard ou 19,99 por som de alta fidelidade).
Modelo de negócio terminante e disruptivo, instalou-se na sociedade quando a indústria da música cobrava 20 euros por disco e entrou em declive pelo choque selvagem da gratuitidade que era a partilha de ficheiros pela internet - que hoje nos parece um cenário praticamente medieval.
Mas, então e os músicos?
Mas, se tudo isto é assombroso para o utilizador, como é para quem compõe, edita canções e tem que ser pago em direitos de autor?
É uma roubalheira - dizem os GNR, grupo pop do Porto com 86 mil ouvintes mensais no Spotify (para se fazer ideia: os artistas mais ouvidos no Mundo, acima de 80 milhões de pessoas/mês, são hoje Ed Sheeran, Lil Nas X ou Drake).
"É um assalto à mão armada", exclama o vocalista e letrista Rui Reininho, aludindo ao pagamento de royalties, que são os devidos direitos de autor: média de 0,003 cêntimos (cerca de 60% do recolhido pela plataforma) cada vez que uma música é escutada. "O retorno é ridículo. Não sei para onde vai a massa toda! Não dá sequer para comprar umas sapatilhas novas."
A "massa" fica prevalentemente no Spotify: nos primeiros três meses de 2022, a empresa do sueco Daniel Ek lucrou 43 milhões de euros/mês - Ek, de 39 anos, tem uma fortuna de 2,1 mil milhões de dólares.
É o futuro da música? Não exatamente - mas é o seu pujante presente. O futuro, suprimida a iniquidade, vai evoluir para novas plataformas comunitárias e abertas como o Audius, que elimina intermediários e é moderado pelos artistas, que recolhem 90% do lucro total.