Durante mais de três horas, a cantora norte-americana percorreu os seus discos, as suas Eras, em 45 canções. Entre declarações de amor a Lisboa e promessas de voltar, foi ovacionada pelo público durante vários minutos.
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Os fatos (de lantejoulas) foram preparados, os coros afinados, as pulseiras entrelaçadas; a espera foi longa mas Taylor Swift, a cantora que bate todos os recordes e que tem um séquito de centenas de milhões de fãs em todo o Mundo, chegou finalmente a Portugal. Durante três horas, na primeira de duas noites no Estádio da Luz esta sexta-feira, Taylor cantou, dançou, conversou com o público, elogiou Portugal, falou em português. “Desculpem não ter vindo antes, é um erro que não voltará a acontecer”, disse a dado ponto, num espetáculo que terá cumprido todas as expetativas dos fãs.
“O que é que Taylor Swift tem”, que justifique afinal este interesse, que a rodeia onde quer que vá, foi o tema que marcou os dias que antecederam esta estreia em Portugal. Houve debates, podcasts, escreveram-se artigos, opiniões; houve peleias, nem sempre simpáticas ou civilizadas, na internet. Falou-se das músicas, da sua produtividade- em 34 anos de vida e 18 de carreira, tem mais discos editados do que muitos artistas. Falou-se da fortuna, do namorado, de como soube lidar com os novos media, comunicar com os fãs nas redes sociais, com interações ou pistas. De como escreve sobre relações, sentimentos, desilusões, como liga com as pessoas: e falou-se recordes, da tour, do Spotify, vendas, Grammys, seguidores.
No meio disto tudo as respostas estão, em grande parte, no espetáculo ao vivo. Quem nunca a viu, já o suspeitava; quem viu, percebe. Começou a perceber-se em Lisboa logo à porta do estádio, onde a emoção e energia dos fãs, do ambiente e da antecipação já eram palpáveis; mas sobretudo no concerto em si, em tudo o que aconteceu num enorme mundo de eras recriado na Luz.
Taylor entrou pelas 20.15h mas, já antes, uma contagem decrescente nos ecrãs, gritada por milhares de fãs, anunciava a sua chegada. Perante quase 60 mil pessoas, num recinto há muito esgotado, começou com a sua Era “Lover”: “Miss Americana", “Cruel summer” e “The man” compuseram a sequência inicial, como tem acontecido sempre na digressão.
“It’s been a long time coming”, cantou em “Miss Americana”, e não será por acaso a escolha desta música para a abertura: além de ser ela própria, Miss Americana, tal como no documentário da Netflix, a letra entoada por tantos fãs ao vivo faz todo o sentido, até porque há muito que os “swifties” portugueses esperavam por uma oportunidade para a ver.
A ajudar ao ambiente eufórico que se sentia desde início, umas pulseiras entregues à entrada, semelhantes às dos concertos dos Coldplay, tinham luzes a acender de forma concertada, criando efeitos de público fortíssimos o tempo todo. E Swift fez o resto.
“Olá!” disse em português perfeito, logo ao primeiro tema, acenando ao público de todos os lados, uma enorme manga central de palco a conseguir aproximá-la praticamente de todos. Logo ali, nos primeiros minutos, se percebeu que a interação, os sorrisos e acenos, os piscares de olho, o ar feliz, as declarações de amor seriam constantes.
"Muito obrigada", disse, também em português, depois de "Cruel summer". "Lisboa, fazem-me sentir incrível", acrescentou já em inglês, lembrando ser este o seu "primeiro concerto de sempre em Portugal". "Quando eu saí e vi este público, vocês tiraram-me o fôlego; o meu coração bateu tão rápido, fizeram-me sentir tão sortuda " acrescentou, antes de "Lover", tema tocado com bailarinos em palco, a dançar em casal, como num baile de finalistas.
A partir dai, foi apertar os cintos e ter garra para acompanhar a energia da cantora que, durante quase três horas e meia, literalmente não parou. Dela e de toda a produção em torno de um concerto onde os detalhes são tantos, tão esmerados, que parece um filme, só que ao vivo, com mais emoção- e uma quase constante procura de interação.
Depois da Era Lover, foi a vez da Fearless, com o tema com o mesmo nome, e ainda “You belong with me” e “Love story” e chegou-se a uma das favoritas dos fãs, Red, de onde saem temas como “We are never ever getting back together” ou “I knew you were trouble”
Nesta era, Swift vai ao fundo da manga de palco, abraça uma menina portuguesa que lhe dá uma pulseira e diz que a adora. A cantora move-se constantemente pela enorme manga, mas em todo o recinto é possível viver a festa ao máximo, com os seus detalhes: os fogos, os confetis, os filmes ou montagens que por vezes passam num ecrã central que quase ocupa transversalmente o estádio, os dançarinos, a banda ao vivo- ou bandas ao vivo, uma de cada lado do gigante ecrã.
Tudo é oleado à minúcia: a passagem entre eras é rápida, assegurada pelos bailarinos, banda, cantores ou vídeos, enquanto Swift muda de roupa para um dos famosos visuais da digressão que acompanha cada fase. Surgem coisas em palco, nem sabemos bem como, autênticos mundos.
Depois da mais mexida e ousada Reputation e antes da Era Folklore/Evermore, por exemplo, o público pestaneja e há um bosque, com a cabana de “Folklore”. “Obrigada”, diz a cantora, novamente em português, e depois conta a história do disco e de como a ajudou a escapar da realidade da pandemia, explica antes de “Betty”. Passa para “Champagne problems” e é no final deste tema que se cria uma ovação espontânea de vários minutos, 60 mil pessoas aos gritos, Taylor primeiro ao piano e de auriculares, até que os tira, se levanta e fica a absorver. A ovação continua, ao ponto de a produção acender as luzes para a artista ver o público, levando-a a voltar-se para a banda, aparentando genuína surpresa. Perante tudo, diz: “nunca na minha vida vou esquecer este momento aqui em Lisboa”.
Não deixa de ser marcante que a ovação, que curiosamente já tinha acontecido no mesmo tema num concerto do ano passado nos EUA, tenha surgido depois de uma música de “Evermore”, o seu lado mais introspetivo, sonhador, uma das vertentes com as quais os fãs mais parecem se identificar. Depois ainda fala mais deste disco e de como, ao escrevê-lo, não sabia se haveria um fim de pandemia, um regresso de digressões, se poderia estar “num sítio como Lisboa a tocar”.
Mas está, e entra a festa total com a Era 1989 e os seus “Blank space”, “Shake it of”, “Bad blood”, entre outros. Do novo “The tortured poets department”, disco duplo com pouco mais de um mês de vida, traz à primeira noite em Portugal “But daddy I love him”, “Who's afraid of little old me?”, “Down bad” e “Fortnight”, entre outros, e é impressionante como os fãs já parecem conhecer os temas de cor- assim como o é, um álbum tão recente, já ter uma Era ao vivo, com fatos, danças, conceito, coreografias.
Há muito trabalho naquele palco e nesta digressão, é uma sensação inegável: tudo é ensaiado ao milímetro, os preciosismos das construções de cada era, a maneira como Swift olha para certa câmara, tudo tem um forte lado cénico mas ao mesmo tempo não deixa de ser orgânico- e entre som, voz, danças, controlo de palco e do público, tocar guitarra e piano, Swift tem tudo em controle, e ainda parece ter aprendido várias frases em português; até a frase “ajuda por favor”, que disse algumas vezes, dirigindo-se aos seguranças, sempre que via um fã em aflição.
No alinhamento e já secção acústica, as antecipadas surpresas, à guitarra e ao piano: primeiro uma mistura “Come back…be here” e “The way I loved you” e depois “Fresh out the slammer”. Antes, mais uma declaração: “este público tem sido um dos mais memoráveis para os quais já atuei em toda a minha vida. A partir de agora, sempre que não estiver aqui vou estar a querer cá voltar”, frisa, antes de mostrar então “Fresh out the slammer” que, lembra, nunca antes tocara ao vivo.
A Era Midnight traz ainda sete temas, incluindo “Anti-Hero”, “Midnight rain” e o último “Karma” onde, depois de se declarar novamente ao público, Swift se despede com nova ovação e fogo de artifício.
A Eras Tour, um concerto retrospetivo de uma cantora de 34 anos, que se estende por 21 meses e 152 espetáculos, passou por Lisboa e deixou uma marca, que parece ser mútua. Este sábado, há novo concerto (e romaria de fãs) na capital.