Objetiva poética de Alfredo Cunha capta a identidade especial do festival minhoto.
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Já lhe chamaram de “Couraíso” e é precisamente dessa massa incorpórea mas cheia de substância de que é feito “Paraíso de Coura”, álbum de fotografias de Alfredo Cunha que desnuda, através de imagens, a identidade muito especial do Festival de Paredes de Coura.
Ao longo da última década, o fotojornalista rumou ao Parque do Tabuão com o afã de compreender o que é que, afinal, Coura tem. Não se deteve em particular nos músicos – embora não nos faltem retratos de ilustres como Patti Smith, Adolfo Luxúria Canibal ou Manel Cruz –, preferindo captar antes divindades mais terrenas. Ou seja, a turba ululante que, distendida na relva a prestar reverência ao rei sol ou em pleno transe hipnótico durante os concertos, confere ao festival a sua aura pessoal e intransmissível.
É por isso que, como escreve Vítor Paulo Pereira, autarca que fez parte do núcleo de fundadores do festival, “Coura será sempre a eterna dança até ao fim”.
Sonho de muitas noites de verão, o festival é, como se depreende pela objetiva de Cunha, esse manancial de histórias que cada espectador traz. Como se fosse uma testemunha futura de uma ideia louca que 12 amigos tiveram no início da década 1990, entretanto materializada de um modo que suplantou tudo quanto haviam sonhado.
Por esse mesmo motivo, talvez Valter Hugo Mãe não esteja a exagerar quando escreve, num dos quatro textos incluídos na presente edição, que
“o Festival de Coura é o Entroncamento das sortes, o lugar onde dá certo qualquer estranho e o esplendor humano se nota em qualquer nico de gesto”. Há mesmo quem jure ter visto, durante um concerto, “uma cachopa de Cerveira passar a voar igualzinho à Fada Sininho”.
É, pois, de sucessivos milagres terrenos que tem sido feita a história de um festival cuja simples menção se tornou sinónimo de memórias e momentos irrepetíveis para as muitas centenas de milhar que, a dada altura da sua vida, rumaram à (quase sempre) pacata vila minhota. Porque este “Paraíso de Coura” “é sobre pessoas a serem pessoas”, como escreve Mário Lopes.