Tozé Martinho, uma das figuras fundamentais da televisão nacional do pós-25 de abril, morreu ontem aos 72 anos, no hospital de Cascais
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Era um dos rostos mais conhecidos da televisão portuguesa, reverenciado como o primeiro galã das telenovelas nacionais e um dos mais bem sucedidos argumentistas da ficção televisiva. Tozé Martinho morreu, ontem, aos 72 anos, no hospital de Cascais, na sequência de uma infeção grave.
Ao que o JN apurou junto de fonte próxima do artista, Martinho estava já há alguns dias internado, devido a uma infeção renal, que se foi agravando, até que atingiu o coração. Terá sofrido uma série de enfartes e acabou por falecer, ao final da tarde.
Tozé Martinho tinha sofrido um acidente vascular cerebral, em 2014, que tinha deixado sequelas. Nos últimos anos sofreu com problemas de saúde, mas o seu desaparecimento apanhou de surpresa os amigos, que ficaram naturalmente em choque com a notícia.
Foi um "dos atores e guionistas portugueses mais ativos"
Foi com um "aperto no coração" que Maria João Abreu fica a saber da notícia do falecimento pelo JN. "Tive o prazer de estar ao seu lado em vários projetos. O Tozé escreveu e interpretou alguns dos maiores êxitos da dramaturgia [televisiva] portuguesa e vamos ficar mais pobres sem ele. Vou ter muitas saudades, mas fica o legado", sublinha a atriz. Amigo próximo de Martinho, também Carlos Areia disse ao JN estar inconsolável. "Vai fazer falta à geração de atores e argumentistas mais nova. Perdemos uma referência e eu perdi um amigo."
O Presidente da República reagiu também publicamente, recordando-o como um "dos atores e guionistas portugueses mais ativos", que ao longo das últimas décadas "esteve presente no nosso imaginário". "Foste, com o nosso Nicolau Breyner, um dos principais construtores da grande ficção televisiva", reagiu também o ficcionista Francisco Moita Flores.
Figura essencial da TV
António José Bastos de Oliveira Martinho nasceu em Lisboa em dezembro de 1947, era filho da atriz e escritora Maria Teresa Ramalho, mais conhecida por Tareka e que morreu em 2018.
Foi aliás ainda na década de 1970 que apareceu pela primeira vez nos ecrãs de televisão, ao participar no programa "A Visita da Cornélia", com a sua mãe. Era também irmão da escritora Ana Maria Magalhães.
Estudou Medicina Veterinária e Economia, mas foi depois para Direito, curso que concluiu. Martinho estreou-se na representação em "Vila Faia" (RTP), que ficou registada na história da TV como a primeira telenovela produzida em Portugal, em 1982. O papel como inspetor Silveira lançou-o no pequeno ecrã, dando início a uma carreira que se mistura com o crescimento da ficção nacional, no qual teve um papel fundamental.
Participou depois, entre outras produções, na comédia "Gente fina é outra coisa" (1982) ou na telenovela "Palavras Cruzadas" (1987). No ano seguinte, voltou a colaborar com Nicolau Breyner, na primeira série de ação policial à portuguesa "Homens da segurança", rodada em Tróia e que marcou uma geração.
Com trabalho realizado também no teatro e no cinema, é sobretudo no pequeno ecrã que deixa um legado expressivo. Escreveu a sua primeira telenovela, "Roseira brava", na RTP, em 1995. Nos anos seguintes, ficou reconhecido como um dos "pioneiros da indústria das novelas portuguesas", como o recordou ontem a TVI, estação para que escreveu histórias como "Todo o tempo do mundo" (1999), "Olhos de água" (2001) ou "Louco amor" (2012) , novelas que foram êxitos de audiências, notou a estação de Queluz de Baixo.
Martinho passou por isso a sua carreira dividido entre a representação e a escrita, sem nunca conseguir escolher o que preferia. "Isso é como perguntar a um pai de que filho gosta mais [risos]. Aquilo que eu gosto mesmo é de representar coisas escritas por mim.", explicou, em entrevista à revista "Flash", em 2014.
Como produtor, dirigiu a Atlântida Estúdios e foi também professor universitário de representação e guionismo para televisão. Era casado com Ana Rita Louro, com quem teve um filho e uma filha.