Peça da Plateia D’Emoções estreia este domingo no Coliseu do Porto com a ambição das produções da Broadway. JN assistiu ao ensaio geral.
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O peso das palavras de uma adolescente voltam a ser evocados nestes momentos de instabilidade e incerteza. A Plateia D’Emoções, produtora de espetáculos sediada em Vila Nova de Gaia, reconheceu este sentimento emergente – e urgente – e para não o deixar fugir leva ao palco “Anne Frank - O Musical”.
A expectativa é grande: para a estreia, às 17.30 horas, o Coliseu do Porto está virtualmente esgotando – já só haverá cerca de 20 bilhetes disponíveis.
Fernando Tavares, diretor artístico da Plateia D’Emoções, toma as rédeas da encenação e cenografia, incluindo a força de vontade para criar. À equipa juntou as composições de André Ramos e a escrita de Hélder Reis, que adaptou o diário de Anne Frank. Os movimentos do elenco estão ao sabor da intensidade musical e são pensados por Clara Capucho.
O palco vazio no início da peça é enganador, pois a cenografia construída vai transportar o público diretamente para o esconderijo da família da adolescente alemã de origem judaica vítima do Holocausto.
Do diário de Anne, que morreu com 15 anos, extraiu-se a essência da vida rotineira dos Frank, diretamente trespassada para o guião. Ser fiel às palavras de Anne era o mais importante para o encenador, com o texto cingido às páginas do diário, introduzindo apenas variações nos diálogos.
“Construir um musical fora da caixa, todo ao lado” era a hipótese inicial de Fernando Tavares, mas depois o encenador concluiu que “o que Anne escreve reflete na perfeição a sua história” – e deixou cair a disrupção dessa primeira abordagem.
O brilho de Beatriz Neri
Entre momentos de tensão, a história é interrompida por transmissões de noticiários na rádio. A voz que ecoa é a de André Lacerda, que dita a verdade sobre a realidade da II Guerra para os residentes escondidos no anexo das traseiras de uma fábrica, isolados do mundo por uma simples estante de livros.
Para a protagonista, a luminosa Beatriz Neri, de 25 anos, mesmo vinda de uma formação de teatro que inclui canto, participar num musical não faz parte da sua vocação principal, o que a desafiou a sair da sua zona de conforto. Uma decisão que se provou prazerosa: ao encarnar Anne Frank, a atriz encontrou a sua voz, capaz de arrepiar nos momentos mais intensos da história.
Consciente do ícone histórico que tinha em mãos, Beatriz mergulhou no diário, lendo-o com atenção clínica, estudando-o e tirando notas. Inspirou-se no arquivo da Casa Museu da Anne Frank em Amesterdão, “para me tentar manter o mais próximo possível dela”.
E explica: “Outro desafio tem sido lidar com a força da História e todo o peso que senti ao representá-la. Quando chegamos ao final, continuo em personagem. Ainda sou a Anne! E saibam que estou a tentar suprimir todas as lágrimas e toda a vontade que tenho de me desfazer”, confessou.
As emoções estavam à flor da pele no final do ensaio geral a que o JN assistiu. Fernando Tavares não conseguiu conter as lágrimas, espelhando o orgulho no trabalho de toda a equipa que ergueu a criação.
Sem nunca trair a gravidade da história, a peça é bastante fluida, acessível a todos os públicos, elevando a dramaturgia nos momentos musicais – que são dez –, projetando uma vontade de grandeza à moda da Broadway.
Novas récitas para a semana
A seguir à estreia no Coliseu, “Anne Frank - O Musical” sobe ao palco no próximo fim de semana: sábado, dia 24 de fevereiro, é às 21.30 horas e domingo às 17.45 horas, no auditório do Vilar Oporto Hotel.
Há também Sessões Escolares para o público estudantil, com récitas também no Vilar Oporto Hotel a partir de quarta-feira, 21 de fevetreiro, e até dia 1 de março, com sessões às 10 e às 14.30 horas. Em novembro (de 4 a 6), o musical viaja até ao Centro Cultural de Tábua.