Jornalistas, académicos e representantes das empresas de media reúnem-se entre amanhã e sábado, na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, para trocar ideias sobre as mudanças que afetam e desafiam o jornalismo nos meios regionais e locais. Prática profissional, formação e deontologia são alguns dos temas em debate.
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Entre participação presencial e online, serão muitos aqueles a ligar-se ao I Encontro Nacional de Jornalistas de Meios Regionais (ENJMR), com o tema "Jornalismo nos Meios Regionais no Séc. XXI: Práticas, Deontologia e Formação". "É uma junção muito feliz e que vai dar frutos com certeza, teremos um debate muito mais amplo e produtivo para todos os lados", considera Nuno Francisco, presidente da comissão organizadora.
Num momento de viragem para o jornalismo em geral, e em particular para aquele que se distingue pela proximidade e presença junto das populações, o também professor na UBI e diretor do Jornal do Fundão, conta ver os participantes falar daquilo que vivem na sua prática quotidiana, de como jornalistas e empresas lidam com o desafio da digitalização, numa conjuntura económica adversa.
"Estamos neste momento, espero eu, a reerguer-nos da pandemia. Desejamos um jornalismo forte, com alicerces fortes. O jornalismo regional e local tem especificidades muito próprias, assentes na sua grande proximidade à comunidade, que lhe permite ter outra perspetiva de se reorganizar. E depois há a questão da presença: o jornalismo acelerou muito nos últimos anos e temos que ver o que isso representa para um jornalismo de presença, com as redações mais reduzidas", assinala o mesmo responsável.
Na região de influência da UBI, o Centro do país, concentram-se cerca de 41,4% dos 1061 media regionais e locais portugueses, entre jornais em papel e online, meios apenas online e rádios locais. Estima-se que neles trabalhem cerca de 600 jornalistas, num universo de quase cinco mil jornalistas com carteira profissional em Portugal. Estes dados foram trabalhados a partir de informações da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social e constam de um artigo publicado há um ano por investigadores do Re/Media.Lab - Laboratório e Incubadora de Media Regionais.
Este projeto foi iniciado em maio de 2018 e termina em breve, em janeiro de 2022, sendo este I ENJMR uma forma de o fechar com chave de ouro, assinala João Carlos Correia, investigador responsável do Re/Media.Lab. "O nosso objetivo é prolongar um discurso que já começou, com a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, o Sindicato dos Jornalistas, académicos e empresas, no sentido de divulgar um conjunto de questões relacionadas com a deontologia, formação e identidade profissional. São assuntos que captam muito a atenção dos jornalistas, porque há muita coisa a modificar-se", refere.
Com a transformação tecnológica a ser transversal a todos os debates, os painéis vão abordar questões como a sustentabilidade das empresas e questões laborais, a formação e a deontologia profissionais. O Encontro termina sábado de manhã, com uma convidada britânica. Karin Wahl-Jorgensen, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, vai falar sobre a relação entre o jornalismo local e o seu público durante a pandemia de coronavírus, numa palestra intitulada "Cultivating audience trust and community: The experiences of UK local journalists in the coronavirus pandemic".
O princípio subjacente ao evento é que as palestras, onde terão assento académicos de várias universidades e ainda a Associação Portuguesa de Imprensa (a maior associação patronal da imprensa) e a ERC, sejam pretexto para se ouvirem as vozes dos jornalistas dos meios regionais. João Carlos Correia refere que deste I Encontro Nacional dedicado a eles sairão documentos, em particular um livro com todos os contributos. O programa do evento pode ser consultado aqui.