Livro de banda desenhada "Erva" revela a realidade das "mulheres de conforto" usadas pelos japoneses durante a II Guerra Mundial.
Corpo do artigo
Num mercado que continua a dar sinais de crescimento e diversificação, a presença da autora coreana Keum Suk Gendry-Kim já começa a ser natural. Depois de no ano passado nos terem sido propostos "Alexandra Kim" (Levoir) e "A espera" (Iguana), agora, esta última editora sugere "Erva", mais uma história real - no caso sobre as adolescentes e mulheres que foram utilizadas pelos japoneses como escravas sexuais durante a II Guerra Mundial.
Na sua base está a sul-coreana Ok-Sun Lee, que no final da vida se tornou ativista dos direitos das mulheres. Foi das suas memórias, descobertas em várias conversas, que Gendry-Kim partiu para expor em meio milhar de páginas, traçadas com o seu preto e branco contrastante, um capítulo negro e aberrante da História da humanidade.
Ainda criança, a protagonista foi vendida pelos pais para ajudar num restaurante, mas a realidade veio a revelar-se chocante já que, levada para a China, foi mais uma das "mulheres de conforto" utilizadas pelo elementos do exército nipónico para satisfazerem os seus apetites sexuais - ou a sua bestialidade.
Entremeando as conversas da autora com Ok-Sun, com o desfiar de memórias desta última, cada uma mais trágica do que a anterior, "Erva" - o título remete para a resistência da planta, que pode vergar e ser calcada mas volta a erguer-se - lê-se quase como se de um documentário se tratasse.
Isso deve-se à sua sólida base histórica e história pessoal, mas também ao distanciamento que Gendry-Kim coloca na sua narrativa, tornando-a mais custosa, uma vez que isso obriga o leitor a criar as suas próprias emoções e sentimentos perante uma realidade para muitos inimaginável.
Situação agravada, pelo menos psicologicamente, quando no final da Grande Guerra o Japão foi vencido e teve de submeter-se às condições dos vencedores. Aquelas mulheres, as que sobreviveram, quando foram libertadas e regressaram às suas terras, às suas famílias, ansiando por voltar a uma vida tão normal quanto possível, em inúmeros casos foram rejeitadas e banidas por terem servido o inimigo durante o conflito...