Obras do artista integram a exposição "Espectro" patente em Vila Nova de Cerveira
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Silvestre Pestana (PT, 1949) nasceu no Funchal e faz parte da geração que teve no combate ao fascismo, à guerra do Ultramar ou à guerra do Vietname uma causa. A tal geração construtora da democracia e das vanguardas artísticas que com ela despoletaram. A condição insular, a relação com o mar e as suas semióticas marcam a sua produção e, muito em particular, a forma como combina ciência, tecnologia com as plasticidades da luz e da cor.
Silvestre Pestana é licenciado em Artes Gráficas e Design pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, mestre em Ensino de Arte e Design pela De Montfort University, Leicester, no Reino Unido. Foi professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra e estudou Televisão e Música Eletrónica na Universidade de Estocolmo. Participou em numerosas exposições, coletivas e individuais, a nível nacional e internacional, tendo já merecido grande retrospetiva no Museu de Serralves e sendo assíduo nas Bienais Internacionais de Arte de Cerveira, desde 1978.
A coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira é o maior ativo desta estrutura de criação e programação artística. A sua construção inicia-se em 1978, data da realização dos V Encontros Internacionais de Arte/ I Bienal Internacional de Arte de Cerveira e reúne um total de 755 objetos, provenientes de aquisições, doações, de projetos desenvolvidos no contexto dos ateliers livres e/ou das residências artísticas e dos depósitos a longo prazo. As aquisições correspondem, de uma forma geral, às obras premiadas em vinte e duas edições do evento, enquanto as doações reúnem, entre outras, um corpo de trabalhos correspondente ao momento de criação da própria Fundação Bienal de Arte de Cerveira, em 2011, sendo da autoria dos seus sócios-fundadores. O total de obras corresponde a um intervalo de tempo que vai de 1950 até 2022, ou seja, às obras adquiridas e doadas no seguimento da XXII Bienal Internacional de Arte de Arte, acompanhando os quase 50 anos de Democracia em Portugal.
É a partir de finais da década de 1970 e da década de 1980 que a presença de Silvestre Pestana se faz notar, nas artes plásticas e visuais, pelas novidades que o artista introduz. Foi um dos precursores da performance como prática artística, desenvolvendo um trabalho à volta da palavra, enquadrado com o de outros experimentalistas da época, como é exemplo o PO.EX (Poesia Experimental Portuguesa).
A coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira integra algumas obras suas, além de todo o arquivo e história da bienal mais antiga da Península Ibérica ser também um repositório da sua evolução enquanto artista. "Rio: Água e Sangue" (2003), que está em espaço público; "Águas Vivas" (2003) e "Piso menos dois -2 level" (2012) fazem parte, até 30 de setembro de 2023, da seleção de Raphael Fonseca (BR, 1988) para a exposição "Espectro" patente na Galeria Bienal de Cerveira, no centro de Vila Nova de Cerveira. Na verdade, é a partir dos néones de "Águas Vivas" que o curador carioca estrutura todo o conceito da exposição. De resto, a utilização do néon é frequente e identitária na obra de Silvestre Pestana, nomeadamente pela dinâmica ativa entre arte e ciência, revelada na forma como convoca a simetria das naturezas biomórficas. Real e virtual é outro binómio presente na obra deste enorme artista, precursor, irreverente e que nos dá a sensação de fazer da vida um ato de contínua performance, contínuo protesto, na herança do seu tempo de construção de personalidade que foi o tempo da utopia e da liberdade.
Os quase 50 anos de prática artística de Silvestre Pestana vivem, ainda, entre as potencialidades do futuro e os malefícios e perigos que se configuram no que virá, num estado permanente de equilíbrio e desequilíbrio, de fé e da sua ausência na Humanidade.