Em julho de 2022, com uma pandemia controlada, um concerto há muito adiado reuniu pais, filhos, amigos, namorados e ex-namorados num momento único, por todas as características, da mística à ânsia, que se acumularam.
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Sobre a data histórica do Alive 22 - o regresso aos palcos dos Da Weasel 12 anos após o seu final e perante 55 mil pessoas -, conta Carlão, na biografia do grupo agora lançada, como encontrou depois no autocarro um rapaz que lhe contou que durante o espetáculo ligara à ex-namorada num tema, para descobrir que ela estava a fazer exatamente o mesmo: era a canção deles.
Esta é uma de muitas - são centenas - janelas que se abrem à vida e história dos Da Weasel na sua biografia. "Uma página de história", da jornalista Ana Ventura, acompanha o percurso da banda desde a génese em Almada, quando dois irmãos, João e Carlos Nobre (ou Jay e Pacman/Carlão) começavam a tocar e a criar as bases do que seria um dos maiores grupos e cultos musicais de sempre em Portugal.
"havia muito por dizer"
Desses tempos, no início dos anos 90, até ao anúncio do final em 2010 - e depois o Alive - muito se passou: seis álbuns de estúdio, um EP e dois DVD ao vivo, singles icónicos, muitos concertos, altos e baixos, desafios e superações. Sobre tudo fala o livro e tudo acompanhamos na viva voz de quem melhor conhece o caminho: Carlão, Jay, Virgul, Quaresma, Guilhas e DJ Glue.
A decisão de contar esta página de história, que é também a de uma geração, na primeira pessoa dos intervenientes foi pacífica para Ventura. Como explica ao JN, só assim ficamos com relatos de cada um dos seis, sobre cada momento. Foi o mostrar "a sua perspetiva, a sua narrativa". E com isso, a "personalidade individual" de cada um.
Já a decisão de fazer o livro, sugerida por um amigo, não foi tão tranquila mas a jornalista arriscou, sendo "o não garantido": "O que pensei foi que alguma coisa devia ter mudado para eles voltarem aos palcos; então, porque não tentar contar o que tinha acontecido? Porque na verdade, quando se é da minha geração e quando se cresceu com os Da Weasel a sensação era sempre que havia muita coisa por dizer e por saber".
Tendo os seis elementos essa imagem mais reservada, terá havido assuntos ou temas tabu? "Não. Houve duas fases de enorme confiança da banda", conta Ana Ventura. "Primeiro, a de acharem que eu poderia ser o veículo certo para contar a história deles. E depois tiveram de confiar que a forma como eu iria contar essa história seria a mais honesta, mais real".
O feedback do grupo foi sendo constante, capítulo a capítulo, não havendo uma pergunta a que se tivessem esquivado. E levando mesmo a uma realização: "Se mergulharmos a fundo nas letras dos Da Weasel, vemos que boa parte das histórias estão lá. Com metáforas, mas estão".
Biógrafa acredita que a banda "veio para ficar", seja com discos ou concertos
Na sinopse do livro, Ana Ventura fala de conversas com risos, memórias, lágrimas. Quisemos saber qual a fase mais sensível do grupo e a resposta é clara: a da pausa, em 2009, que se tornou no fim da banda em 2010. Ao lermos a obra, é notório que cada um dos membros lidou de forma diferente com esse cenário. Outra fase emocionante: a do início. "A forma como a banda nasceu é emocionante. O brilho nos olhos do João e do Carlão, quando falavam no começo e nos sonhos que traziam, era muito quente. Era apaixonante vê-los, imaginá-los, muito garotos, mas com um sonho que depois se viria a tornar muito maior do que alguma vez poderiam ter imaginado", frisa. Porque a verdade, destaca, é que a obra dos Da Weasel acabou por se tornar "a banda sonora da vida de uma geração". Sobre o futuro - que passa para já por um concerto no Meo Marés Vivas, a 14 de julho, a autora é perentória: "Vieram para ficar, seja com concertos ou álbuns". No livro, os músicos falam do Alive como um regresso ao primeiro amor, sem saber se arriscariam estragar - e sendo que agora há filhos, outros caminhos. Mas a química, garante Ventura, continua: "O que faz com que os Da Weasel sejam muito mais do que a soma das suas partes, está lá".