Imprevisível, pretensioso e viciante, o novo disco da banda de Ezra Koenig, “Only god was above us”, é um surpreendente triunfo.
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O quinto álbum dos Vampire Weekend é um caleidoscópio de estilos e preciosos detalhes que nos projetam por vários estados de espírito, sempre de sorriso nos lábios. É um trabalho complexo, de melodias agradáveis e pormenores fora da caixa, de uma banda que amadureceu, em certos casos até se resignou, mas que não perdeu a vontade de surpreender e impressionar.
A primeira frase do disco anuncia ao que vem: “Fuck the world”. Palavras de jovens idealistas e revolucionários que bateram de frente contra o muro da realidade. Porém, ao longo dos dez temas do novo disco “Only god was above us”, constatamos que, apesar de alguma desilusão e fatalismo, continuam imprevisíveis, pretensiosos e viciantes.
Não é fácil encontrar uma linha estilística predominante na banda do vocalista e guitarrista Ezra Koenig. Há indie-folk e jazz, mas também batidas hip-hop (“The surfer”) e uma fusão quase cacofónica (“Connect”).
É um álbum onde o piano adquire o protagonismo e assume, sem complexos, o volante. A guitarra, adornada por efeitos, surge como atraente pendura a enriquecer a viagem. As complexas harmonias e orquestrações estão repletas de pormenores únicos, um paraíso para adeptos da escuta minuciosa e microscópica.
Ao longo dos dez temas há uma constante atenção ao detalhe e um notório desejo em surpreender, até irritar: a guitarra estridente, o piano fora de tom, o coro litúrgico ou os crescendos dissonantes.
A verdade é que esta ânsia, com laivos de pretensiosismo, resulta. As peças improváveis encaixam e até acabamos a ansiar pelo regresso da guitarra enervante de “Gen-X cops”.
Apesar das disparidades estilísticas – ou, talvez, precisamente por causa delas – arrisca-se ser o melhor álbum dos Vampire Weekend. Ouve-se de uma assentada, sem perda de nível, e, no fim, apetece-nos logo voltar a ouvi-lo, principalmente a pletora de pormenores irritantes e pretensiosos.