Certame espera dez mil espectadores esta semana.
Corpo do artigo
Qual é a medida certa do riso? Um tribunal de palhaços parte para este dilema, depois de um espectador morrer a rir. A abordagem dos catalães Los Galindos, em "MDR" (morte de riso), é o grande destaque para a oitava edição do Festival Internacional Vaudeville Rendez-Vous. O evento organizado pelo Teatro da Didascália levará a partir de hoje e até sábado, 11 espetáculos às cidades do Quadrilátero Cultural: Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão.
O festival conta com cinco estreias nacionais, duas coproduções e sete espetáculos internacionais. "MDR" (quinta-feira, em Famalicão; sexta-feira em Braga e sábado em Barcelos, sempre às 22 horas) é o imperdível desta edição. "É uma técnica de clown inovadora e irrepreensível que aborda temas como a justiça que nos vem assombrando ultimamente. E há também uma certa desconstrução: já lecionei workshops em que existiam várias pessoas com traumas de infância com palhaços, é importante ver esta técnica fresca e sofisticada", conta ao JN Bruno Martins, diretor do certame.
"Kilometer 97,1" abre a programação performativa quarta-feira, às 19 horas, em Barcelos, uma proposta da companhia francesa Collectif Protocole, com improvisação de malabarismos. Também na quarta-feira, "The good place" estreia na Praça D. Maria II, em Famalicão, às 22 horas. Criado pela companhia MCDF-Marcel et ses Drôles de Femmes, a performance questiona se "a obscenidade está realmente escondida onde a esperamos".
FORMAÇÃO PARA TODOS
Além dos espetáculos, o Festival conta, ainda, com oficinas de criação, dirigidas aos mais jovens, "para ajudar o público mais diverso a afinar o seu sentido crítico perante as artes de rua", diz Bruno Martins. As oficinas decorrem a partir de hoje, nas quatro cidades, e haverá apresentações públicas finais, na quinta e na sexta-feira. Na quarta-feira, Los Galindos ministram uma masterclass para estudantes e profissionais das artes performativas, na Casa do Território, em Vila Nova de Famalicão.
Aproveitando a presença dos programadores internacionais, na sexta-feira haverá uma sessão de "pitching" em Braga. "Queremos que o certame funcione não só como um espaço de montra, mas como uma âncora", conta. "As coproduções nunca foram maioritárias na nossa programação, porque mesmo que quiséssemos não seria possível, dado serem linguagens ainda relativamente novas em Portugal", explica Bruno Martins.
PÚBLICOS E TERRITÓRIOS
No Vaudeville Rendez-Vous, as quatro cidades não terão a mesma programação. "São quatro territórios próximos com características muito distintas, tocam em linguagens artísticas diversas. Nós tentamos que o nosso festival possa tocar noutras programações que são feitas nesses territórios ao longo do ano, para que haja diálogo e cruzamentos. Por exemplo, Braga tem reforçado muito a sua programação nas media arts, então tentámos oferecer circo com essa linguagem", exemplifica o diretor.
Mas respeitando a sustentabilidade de um festival internacional. "Tentámos que cada uma das companhias que participam possa circular pelas quatro cidades, ou pelo menos ter mais do que uma apresentação. No espaço público, as obras devem ser itinerantes, para a sustentabilidade ambiental é muito menos pesado."
As faixas etárias do Festival são uma questão curiosa, "porque o circo tem uma classificação automática para maiores de três anos, mas há espetáculos que pela violência das imagens serão para um público adulto". Mas garante que "os espetáculos da tarde e da manhã são para todos os públicos".
Esta será a primeira edição sem limitações pandémicas, o que permite uma expectativa média de dez mil espectadores, bem diferente dos três mil da anterior. "Podemos cumprir o desígnio do festival com propostas que lançam o olhar sobre território". Do ponto de vista logístico, as limitações da Direção-Geral da Saúde foram uma dor de cabeça. Houve até uma companhia que se recusou a vir no ano passado para não perder uma digressão muito grande em França.