O artista português Bordalo II voltou a abordar a crise imobiliária com um cartaz no centro da cidade de Lisboa.
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"Vende-se Lisboa", escrito de um lado; "For Sale: Lisbon", do oposto - foram estes os escritos escolhidos para que a mensagem fosse clara. No Cais das Colunas, na Praça do Comércio, uma faixa a mimicar os anúncios de vendas imobiliárias colocava "Lisboa à venda". No fim, um contacto: o da plataforma Habitar Lisboa, que agrega os programas de habitação do Município.
"Excelente oportunidade. Cidade de traça antiga, com ótima exposição solar todo o ano e recentemente remodelada com detalhes de luxo. Inserida numa zona premium da Península Ibérica, dispõe de vista deslumbrante sobre o rio Tejo e fácil acesso a restaurantes e comercio deluxe. Ideal para quem quer disfrutar de ambiente vibrante, cosmopolita e gentrificado. Uma oportunidade de sonho numa cidade onde a maioria nem pode sonhar em viver", escreveu no Instagram, a acompanhar uma sequência de imagens.
O artivista, como se intitula, tem sido uma voz ativa na crítica aos problemas de acesso à habitação. Há três meses, foi notícia por instalar um Monopólio gigante no Cais do Sodré, defendendo, na altura, como "as nossas cidades estão a ser convertidas em grandes tabuleiros de jogo". E acrescentava então: "O direito à habitação, presente na Constituição, está agora à mercê da sorte ou do azar".
A obra, "Provoc", viria a dar polémica, não só por críticas da autarquia, que garantia ter havido danos na calçada; como por uma acusação de plágio pela artista Fartadaa, que acusava as semelhanças da instalação com uma sua, "Lisbonopoly" - comparação rejeitada pela equipa de Bordalo II.
No passado mês de julho, condenou as demolições no Bairro do Talude, em Loures, usando também uma placa inspirada em anúncios imobiliários.
O "Desalojamento Local"
Já em setembro de 2023, criara "Desalojamento Local", uma rua/instalação de tendas pintadas como casas, no Miradouro de São Pedro de Alcântara. Na altura, falava na urgência de "regular a loucura da especulação que retira a dignidade a uns para encher os bolsos de outros".
Além da habitação, o artista que primeiro ficou conhecido pela sua Trash Art ou arte com recurso a lixo, tem também endereçado, com as suas instalações, temas como a tauromaquia e o uso de dinheiro do Estado: uma das suas intervenções mais comentadas foi a do tapete de notas de 500 euros, em frente ao altar principal da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Parque Tejo, em 2023, criticando o investimento quando muitos lutavam "para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade".
A cada ação, entre elogios, críticas e acusações de vandalismo, as opiniões do público normalmente dividem-se. Já as autoridades são normalmente céleres a reagir: no caso presente, o último vídeo partilhado por Bordalo II parece ser o da polícia municipal a retirar o cartaz.