Depois de três biografias, a vida de Ney Matogrosso vai dar origem a um filme. As filmagens vão decorrer no próximo ano e a personagem principal será interpretada pelo ator Jesuíta Barbosa, revelou, na tarde deste sábado, o cantor brasileiro aos jornalistas, em Óbidos.
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Aos 82 anos, Ney Matogrosso participa hoje numa mesa sobre a “Vida”, em que é apresentada a sua última biografia, da autoria do escritor e jornalista brasileiro Julio Maria, na tenda vila literária do FOLIO – Festival Internacional de Literatura de Óbidos.
Ney Matogrosso confessou que, ao início, teve dificuldade em entender por que motivo o realizador estava a juntar acontecimentos que decorreram com um intervalo de 20 anos. Contudo, disse que essa questão deixou de o inquietar quando constatou que era “uma linguagem”.
Satisfeito por terem escolhido o ator Jesuíta Barbosa, de 32 anos, para interpretar a sua personagem, Ney Matogrosso disse que o filme se baseia na biografia escrita por Julio Maria e manifestou total recetividade para colaborar, tanto com o ator, como com o realizador. A única condição que impôs é que, se tiverem dúvidas, conversem como ele, para “não haver mentiras”.
O artista brasileiro revelou ainda que surgiu a ideia de ele aparecer no final do filme e questionou se irão iniciar as filmagens com um episódio que nunca esqueceu, em que o pai o mandou para o jardim de casa sem roupa. “Não sei se isso vai ser mantido porque agora não se pode botar uma criança nua, não é?”
Apesar de considerar uma imagem cinematográfica “muito forte” para começar a história de vida de alguém, diz que não se recorda por que motivo o pai o pôs de castigo, mas lembra-se que se cobriu com terra, para tapar o corpo nu, porque o jardim tinha grades e as pessoas iam passando na rua.
“Nunca me esqueci. Como é que eu vou esquecer?”, questiona Ney Matogrosso. “Ele me odiava e eu o odiava. Ele saía de casa, e eu falava à minha mãe: ‘tomara que um caminhão mate esse camarada’”, contou. No entanto, garantiu que “tudo foi resolvido”, na fase da sua vida em que era hippie e ainda não era um artista famoso, quando teve o “ímpeto” de o abraçar e lhe dar um beijo.
“A partir dali até ao fim da vida dele, fui o único filho que ele abraçava e beijava quando encontrava e quando se despedia”, assegurou o cantor brasileiro. Embora o pai o tivesse agredido várias vezes, garantiu que não guardou “nenhum ressentimento”. Acompanhou-o até ao final da vida e dava-lhe “sorvetes” à boca.