A liberdade sempre foi o motor e ao mesmo tempo o farol de Ney Matogrosso, nome artístico de Ney de Souza Pereira, nascido a 1 de agosto de 1941, em Bela Vista, no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul. Em criança, montava a cavalo sozinho e perdia-se pela mata para se encontrar com a Natureza. Filho de um militar déspota e rígido, desde muito cedo decidiu que sairia de casa assim que pudesse e aproveitou a Academia Militar para o fazer. Foi para o Rio de Janeiro e viveu em Brasília, no início da fundação da cidade, onde trabalhou como técnico de laboratório num hospital. Foi longo o caminho até chegar à música, com a banda Secos & Molhados, aos 31 anos, e ainda mais longo o que tem percorrido desde então. Hoje, com 84 anos, continua eletrizante nos palcos e a esgotar espetáculos. São mais de 50 anos de carreira, uma vida que parece maior do que a própria vida.
Corpo do artigo
Ney recebe-me no seu apartamento no Rio de Janeiro, um triplex no Leblon, onde vive com a sua macaquinha Garota, solta pela casa. O filme "Homem com H" saiu em maio e presta homenagem ao paladino da liberdade dos sentidos e da verdade e uma das vozes mais talentosas da música brasileira. Temos uma amizade intemporal e terna, como ele. Está sentado no chão, a sua voz embala-me os sentidos. É uma conversa sem tempo, retomada há pouco, por ocasião da estreia do filme que conta a sua vida. O medo nunca lhe meteu medo, talvez seja essa a sua maior força.
Como foi a sua infância?
Cresci na mata, porque passei a minha infância numa vila militar que foi construída numa área roubada à Natureza. E no quintal da minha casa via tatu, veado, e passava a tarde embrenhado lá, depois da escola. Comecei a perceber tudo, os ciclos da Natureza, o acasalamento dos pássaros, via cobras e nunca tive medo.