Festival histórico regressa ao Alto Minho entre amanhã e sábado. Iggy Pop, Bauhaus e Simple Minds são os dinossauros de maior dimensão. Esperadas 60 mil pessoas.
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A cada fim de semana que passa, neste verão, desperta um festival emblemático após longa hibernação motivada pela pandemia. Mas faltava acordar o mais histórico de todos, aquele que se realizou pela primeira vez em 1971, ainda em plena ditadura do Estado Novo, aquele que junta avós, filhos e netos numa simbiose entre a memória e a primeira experiência.
Faltava Vilar de Mouros e o seu cartaz recheado de clássicos. E a dose é valente em 2022: há um monarca absoluto e indomável, Iggy Pop, e uma corte de cavaleiros notáveis: Bauhaus, Placebo, Suede, Gary Numam ou Simple Minds.
alinhamento de 2020
Apesar de algumas substituições de última hora, como Wolfmother pelos Blind Zero ou Limp Bizkit pelos Simple Minds, o alinhamento corresponde quase na íntegra ao que estava planeado para 2020, explica ao JN Diogo Marques, um dos diretores do certame. "Reunimos um cartaz homogéneo e em linha com o espírito do festival, que trabalha com a memória das pessoas e é também um espaço de transmissão entre gerações. Os que têm menos de 25 anos vêm geralmente com os pais. Vivem aqui o seu primeiro festival acompanhados por quem já os frequenta há décadas".
A paragem de dois anos permitiu afinar uma série de aspetos, diz o responsável: "O palco foi aumentado e permite agora voar tecnicamente. O recinto também cresceu, acolhe 25 mil pessoas. Foi acrescentado um hectare ao parque de campismo e sete novos parques de estacionamento. E haverá dois autocarros a circular entre as 16 horas e as 4 da manhã entre Caminha e Vilar de Mouros. Esperamos receber cerca de 60 mil pessoas nestes três dias".
Condições revistas e aumentadas, falta o banquete, que tem vários pratos fortes - incluindo aquele que rebenta com a escala do colesterol: a atuação de Iggy Pop, 75 anos, quase 60 de carreira, o homem que já era punk antes do punk saber o seu nome. Prevê-se que deixe a plateia exausta antes dele próprio se cansar, como é habitual, e que viaje sobretudo pelo passado furioso dos The Stooges e dos primeiros álbuns a solo. A estender-lhe o tapete, no sábado, estarão as mãos refinadas e teatrais dos Bauhaus, a banda de Peter Murphy, Daniel Ash, David J e Kevin Askins que definiu os contornos estéticos e espirituais do rock gótico no final dos anos 1970.
quatro totens
Nos dias anteriores, irão "voar tecnicamente" pelo palco as propostas de mais quatro totens da pop/rock, todos eles com trabalhos novos: Gary Numan, um dos pioneiros da música eletrónica, autor do seminal "The pleasure principle" (1979); o rock andrógino e dramático dos Placebo, que acrescentaram este ano um novo título à discografia, "Never let me go"; a pop elegante e sensual dos Suede, que costumam deixar a pele em cima do palco; e os Simple Minds, que fecham em Vilar de Mouros a "40 years of hits tour", o que promete passagem prolongada pelo maior produtor de hits da sua carreira - "Once upon a time" (1985).
Há uma geração um pouco mais nova: a jarda de rap metal com veneno político dos Clawfinger; as equações matemáticas dos Battles; o rock escuro e implosivo dos Black Rebel Motorcycle Club. E um contingente nacional: Tara Perdida, The Legendary Tigerman ou Blind Zero.