Circuito artístico está em franco crescimento. Chegar a profissional é o grande sonho de quem se inicia.
Corpo do artigo
Gracejam e fazem piadas como quem respira: o humor corre-lhes nas veias, e eles são o sangue novo da stand-up comedy (comédia em pé, à letra), que - garantem - está bem e recomenda-se.
Joana Oliveira e Tomás Matos riem e fazem rir desde pequenos. Têm 23 anos e são da geração dos que estão a dar os primeiros passos como humoristas. Atuam regularmente em bares que acolhem comédia, conquistaram o palco do Porto Comedy Fest, que decorre até sábado, e sonham com o dia em que a pergunta sobre a profissão possa ter uma só resposta: "humorista".
Eduardo Marques, o comediante que em 2021 idealizou o festival da Invicta e volta a apresentar a edição deste ano, nota que o fenómeno "tem vindo a crescer" e a captar o interesse das gerações mais novas, que já encaram a stand-up comedy como uma possibilidade profissional.
"Há um circuito contemporâneo emergente que trabalha a toda a hora", diz o anfitrião do Porto Comedy Fest, de 41 anos, que fala na formação de um "circuito que trouxe mais humoristas com qualidade - porque atuam mais vezes - e mais público".
Digital é "essencial"
Autor do livro "Com o humor não se brinca", Nelson Nunes destaca "o aparecimento de caras novas no "mainstream"" e refere que "há mais festivais do que nunca a apostar em comédia". "O Porto (e o Norte, no geral) está bem apetrechado de casas de stand-up, e Lisboa, apesar da pandemia, ainda tem alguns espaços onde é possível testar material", aponta o escritor e jornalista, que considera que o formato "não esmoreceu": a stand-up comedy "está viva e bem viva".
"Este ano foi o melhor", confirma Eduardo Marques, observando que "há um renovar quase a 100%" dos humoristas, que hoje têm "mais oportunidades" de mostrar o trabalho, seja nos bares que dedicam espaço à comédia ou pelos meios digitais. Nelson Nunes diz mesmo que "foi a Internet a mudar tudo, desde processos criativos até à obtenção de públicos e, em última análise, de subsistência e de modo de vida".
A jovem portuense Joana Oliveira trilha esse caminho há um ano. Está nas redes sociais e desde janeiro que atua regularmente no bar Ferro, na Baixa do Porto, que abre as portas ao humor. "O ideal é fazer as duas coisas", aconselha, lembrando que "o digital é que vende bilhetes; é essencial". Esta plataforma, aliada ao aparecimento de "mais bares que decidiram fazer noites de stand-up", resultou na receita que tem potenciado o "crescimento, nos últimos cinco anos", do formato. E "hoje é muito mais fácil começar".
"Não é uma moda"
Tomás Matos, que também está nas "redes" e iniciou as atuações "há dois anos", após uma formação, faz da comédia um "part-time", que concilia com o emprego num hotel. Ao contrário de Joana, que "gostava de fazer disto profissão", não tem certeza quanto ao futuro, e deixa apenas uma declaração de amor ao humor: "Não sei se vou fazer disto vida, mas vou fazer sempre isto".
"Hoje, já temos miúdos a ambicionar ter a comédia como profissão. O humor - e, sobretudo, a stand-up comedy - veio para ficar. Não é uma moda", assegura Miguel 7 Estacas, que ontem participou no festival do Porto. Também António Raminhos diz que o fenómeno "tem sido consistente", mas lembra que "há, hoje, mais facilidade em mostrar o trabalho, com o Instagram e os podcasts, e isso tem ajudado a um aumento de qualidade". Por outro lado, como assinala Eduardo Madeira, "já há muitos clubes e, para um comediante, não há melhor do que experimentar as coisas num clube pequeno. É um balão de ensaio".
Festival decorre no Porto até ao próximo sábado
A segunda edição do Porto Comedy Fest decorre até sábado, no auditório do CCOP - Círculo Católico de Operários do Porto, perto da Faculdade de Belas Artes, na Baixa do Porto, e conta com a participação de mais de 60 humoristas. Este ano, a organização optou por "aumentar quatro vezes a bilheteira", como indicou ao "Jornal de Notícias", o produtor do evento, Rui Almeida, mas o primeiro dia viu as duas primeiras sessões canceladas, por não terem sido vendidos bilhetes suficientes. Hoje e amanhã, o mesmo motivo levou à suspensão da primeira sessão, às 19 horas, mas mantêm-se abertas as das 21 e das 22.30 horas. Na quarta-feira, o dia será em inglês. Os últimos três dias, que contam com nomes como Pedro Teixeira da Mota e Carlos Coutinho Vilhena, têm as três sessões já esgotadas.