Cantora lança músicas sobre mulheres condenadas por legítima defesa contra agressores
Vivir Quintana traz as vozes femininas que sobreviveram a agressões, mas que acabaram condenadas por “uso excessivo da legítima defesa”
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A cantora e compositora mexicana recorreu ao género musical corrido – polémico e tipicamente masculinizado – para contar os percursos de dez mulheres condenadas e presas por terem assassinado os seus agressores em legítima defesa. Vivir Quintana, de 40 anos, visitou estas mesmas mulheres em estabelecimentos prisionais do México nos últimos anos e apresentou agora, através da música e da sua guitarra, o resultado destes encontros e das histórias que escutou.
Em Cosas que Sorprenden a la Audiencia (Coisas que Surpreendem a Audiência, em tradução literal), as músicas pretendem criar consciencialização em torno dos níveis de violência que existem contra as mulheres na América Latina, região onde, em média, morre uma dezena de mulheres por dia às mãos de agressores masculinos.
Quintana traz as vozes femininas que sobreviveram a agressões, mas que acabaram condenadas por “uso excessivo da legítima defesa”. “Tantas vezes temi pela minha vida. Tantas as vezes que não me defendi" canta a cantora e compositora mexicana no tema Mas libre que en casa (Mais livre [na prisão] do que em casa, em tradução literal). E acrescenta: “Batia-me de noite e de dia, dizia-me para não gritar. Matei-o porque não aguentei a bota dele na minha cara, o seu jeito de amar”. “Agora vivo trancada numa prisão e sinto-me mais livre do que na minha própria casa”, escuta-se no mesmo tema que pode escutar abaixo.
De entre as músicas do novo álbum, em Era Él o Era Yo (Era eu ou ele, em tradução literal), a compositora traz à luz a história de Roxana Ruiz, que cumpre pena de seis anos por ter assassinado o homem que a violava e que a ameaçou matar em 2021. Noutras composições, Quintana retrata a história de uma jovem de 14 anos, natural de Tabasco, que matou o pai quando este abusava da mãe e o caso em que uma mulher foi raptada por dois homens, levada para um hotel e abusada. Foi presa por ter assassinado um deles e condenada por ter perpetrado “homicídio por uso excessivo de legítima defesa”.
A escolha género musical corrido para tratar desta temática é feita, por Quintana, com precisão cirúrgica. Este tipo de baladas típicas do norte do México, que tem vindo a crescer, é conhecida por glorificar a violência, sobretudo a que está ligada a cartéis de droga, e a misoginia.
Para combater este recrudescimento, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, propôs que o género musical fosse transformado, criando um novo tipo de corridos, que evitasse cantar narrativas alicerçadas na violência de género. “Não estamos a proibir este género musical, seria um absurdo. O que propomos é que as letras não glorifiquem as drogas, a violência, a violência contra as mulheres ou a visão das mulheres como objeto sexual”, assinalou a chefe de Estado, em meados de Abril, garantindo que não estava em causa qualquer tipo de censura aos conhecidos narcocorridos (corridos sobre o mundo do narcotráfico).