De entre as 77 mulheres que terão um lugar na nova composição parlamentar, saída das eleições legislativas deste domingo, 18 de maio, está uma rapper, investigadora e ativista. Saiba quem é a compositora e intérprete Eva RapDiva, de 36 anos, e o que defende
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Nascida a 7 de outubro de 1988, na Arrentela, no Seixal, a rapper Eva Cruzeiro é agora uma das 77 deputadas que vai integrar o novo hemiciclo, estreando-se nos trabalhos parlamentares. A compositora e intérprete apresenta-se artisticamente como Eva RapDiva, também conhecida como Rainha Ginga do Rap, e conquistou o passaporte para São Bento após ter sido eleita neste domingo, 18 de maio, em oitavo lugar na lista do Partido Socialista por Lisboa.
Para lá da música e do canal que mantém no YouTube - com 63 mil subscritores -, Eva Marise Cruzeiro Alexandre é licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, a investigadora tendo vindo a especializar-se em matérias como Gestão Financeira e Direitos Humanos, áreas em que frequentou pós-graduações. Segundo o canal CNN, a ativista e deputada recém-eleita tem sido voz contra a violência contra as mulheres ou pela tomada de consciência relativamente ao cancro da mama.
Esta segunda-feira, 19 de maio, no rescaldo da sua eleição, Eva Cruzeiro anunciou, nas suas plataformas sociais, que quer lutar por "um futuro melhor", por "justiça, igualdade, democracia e liberdade", reconhecendo, contudo, que o caminho "ficou mais difícil".
“Vivemos tempos difíceis, marcados por incerteza, desigualdade e ataques cada vez mais frequentes aos nossos direitos fundamentais”, escreveu a artista nas suas redes sociais e quando revelou que estava na corrida às Legislativas de 2025. No mesmo momento, Eva Cruzeiro explicava que a sua “entrada na política institucional não representava uma mudança de caminho, mas sim um novo capítulo da mesma luta”. “Uma luta que sempre travámos juntos com arte, com coragem, com consciência e com o coração. Uma extensão natural de uma caminhada feita de ativismo e compromisso com a justiça social”, detalhava, no início de abril, a candidata agora eleita.
Eva, que preferirá a designação de ‘rap feminista’ a ‘feminino’ - por considerar que a música é independente do género -, é fã deste som desde a adolescência, como referem os media portugueses.
O seu percurso musical começou quando iniciou participações em momentos de improviso. Um deles, nascido em casa de Sam The Kid em 2006, deu nas vistas após ter ido parar à Internet.
A vida da rapper passou também por Angola, a partir de 2009, onde fez programas de rádio e lançou o seu primeiro álbum A Rainha do Ginga Rap, em 2014, o que lhe valeu o prémio de melhor rapper nos Hip Pop Awards Angola. Três anos depois lançava novo álbum: Eva.
Durante anos fez ponte aérea regular, quase semanal, entre Lisboa e Luanda para estudar em Portugal e dar concertos em Angola ao fim de semana, país onde revelou que enfrentou alguns problemas: “Em Angola, sempre me meti muito na política através da minha música e dos meus posicionamentos em entrevistas e nas redes sociais. Já tive muitos problemas. Já fui censurada, enfim, já aconteceu muita coisa. Até hoje sou censurada num canal de televisão, a ZAP, e fui censurada em muitos outros órgãos por causa das coisas que disse e defendi. Mas depois percebi que precisava de fazer um trabalho mais a fundo. E foi por isso que decidi estudar Ciência Política, para entender como é que através da política poderia fazer mais pelo país”, afirmou, em entrevista à NIT, em junho de 2022 e a propósito do concerto que deu no Rock in Rio.
Por cá, foi recentemente alvo de polémica após ter sido recuperado, em abril deste ano, um vídeo de Eva Cruzeiro de janeiro a 2023, no qual fazia um freestyle, no qual dizia: "Sou africana, ’tou-me a cagar para a guerra na Ucrânia. Esses gajos que se matem como nós nos matámos. Eles não se importam connosco, então nós não nos importamos. Eu sei que isso se cair na net, muitos vão começar a falar mal. Mas a mim não me compete agradar a toda a gente. Nem Cristo fez isto." Na ocasião, o site Polígrafo classificou como verdadeiro este momento publicado no Portal Hip Hop em Dia, via YouTubem e remeteu para um link que, pouco mais de um mês depois, refere que o "vídeo já não está disponível". Na altura, nem Eva Cruzeiro nem o PS prestaram esclarecimentos sobre este vídeo.
Com bastante participação política nos últimos anos, tendo estado também o Parlamento Europeu a convite e na pele de investigadora, Eva RapDiva apoiou, em 2024, a candidatura de Bruno Gonçalves a secretário-geral da Juventude Socialista, que perdeu para Sofia Pereira, em dezembro do ano passado.