Sem mudanças nos partidos, acesso de mulheres a cargos políticos de topo fica comprometido

As urnas estarão abertas até às 19 horas
Pedro Correia / Global Imagens
Participação política das mulheres cresceu ao longo de décadas, mas tem vindo a decair a cada eleição recente. Facto a que se junta a realidade de o sexo feminino não estar a entrar para lugares de topo na política. Especialistas reunidas na "Mesa-Redonda: Mulheres e Participação Política" falam do "paradoxo das quotas" e apontam o dedo aos partidos. Sem mudanças no recrutamento interno das estruturas políticas, ascensão das mulheres está comprometida.
"Não tenhamos a menor ilusão. Podemos fazer mil projetos, mil debates, mil discussões. Se os partidos e as suas formas de recrutamento interno e funcionamento interno não se transformarem, nunca conseguiremos o resultado que, no fundo, se calhar, é aquilo que queremos", reiterou Rosa Monteiro. A responsável do Grupo de Ação Local do projeto FEMACT-Cities, defendeu, durante a Mesa-Redonda: Mulheres e Participação Política, ser "importante mudar os partidos".
Apesar de considerar que tem havido uma "evolução positiva" na sequência da lei da paridade, Rosa Monteiro apontou que 2024 foi o ano, em que, por exemplo, para o Parlamento Europeu "houve a menor eleição de mulheres, desde que foi criado".
A nível nacional, Rosa Monteiro notou que houve também "uma redução da participação das mulheres eleitas" e "o panorama não é espetacular". "Em quase 100 concelhos nestas autárquicas não havia uma única candidata à presidência. A lei é importante, mas existe um fenómeno em torno do qual nós temos de começar a pensar e que na literatura se designa como o paradoxo das quotas", indicou.,
Para a Helena Teodósio, presidente da Câmara Municipal de Cantanhede e oradora na mesa-redonda, os números "não são uma crítica", mas "um ponto de partida para a reflexão". "Ao longo dos últimos 50 anos, muitas mulheres tiveram um papel ativo na vida política local, como vereadoras, deputadas municipais ou responsáveis por pelouros estratégicos, mas a sua presença nos cargos de topo manteve-se limitada. Esta é uma realidade que se foi construindo ao longo do tempo, fruto de contextos sociais, políticos e institucionais que importa compreender", assinalou.
A responsável lembrou que a percentagem de mulheres como autarcas passou de 1,3%, em 1979, para 16% em 2025, salientando que, nas últimas eleições, os Açores registaram a maior proporção de mulheres presidentes, enquanto regiões como Beja e Leiria não elegeram nenhuma mulher para o cargo. "Na região de Coimbra, os números ajudam a perceber esta realidade. Dos 19 municípios, apenas três são atualmente presididos por mulheres", observou.
Liliana Pimentel, a primeira mulher eleita presidente da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova (distrito de Coimbra), nas últimas autárquicas, admitiu que "não é fácil" e foi "com preocupação" que assumiu as funções.
Eleita por um movimento independente, Liliana Pimentel defendeu ainda que os partidos têm de olhar "para como fazem as escolhas". "Se é importante as lideranças e o ser presidente de câmara, ou ser uma candidata à câmara, e isso também chama e cria mais empatia no sexo feminino, e eu faço uma questão em jeito de reflexão: pensem quantas mulheres são presidentes de uma federação de uma distrital dos partidos políticos? Não há nenhuma mulher. Acho que isto diz tudo", afirmou.

