
Atriz Daniela Ruah interpreta a professora Vitória na série "O Grito"
Divulgação RTP
Daniela Ruah dá vida a Vitória Neves uma professora que se confronta com os problemas de ensino, o bullying dos alunos e que acaba por pôr termo à vida. A série "O Grito", de Leonel Vieira, e que se estreia na RTP1 esta segunda-feira, 8 de dezembro, quer trazer para o público as dificuldades vividas no sistema de ensino. A atriz espera que esta produção traga "diálogo" entre todos para uma escola melhor.
Enquanto foi Vitória Neves, a atriz Daniela Ruah nunca sorriu. "Este detalhe acabou por afetar o resto da minha fisicalidade e vida interior", refere a atriz em entrevista por escrito. À delas.pt e a propósito da estreia da série de oto episódios O Grito, na RTP1 e marcada para esta segunda-feira, 8 de dezembro, às 22.30 horas, Ruah interpreta uma professora em depressão e burnout que acaba por se suicidar e após anos de confronto com lutas profissionais da classe - a série arranca com imagens das greves -, com a injustiça e burocracia que se vive nas escolas, o crescente fenómeno do bullying que atinge os alunos e, claro, os problemas da sua vida pessoal.
[Foto: Divulgação RTP]
A trama já foi exibida na HBO Max, "com reações muito positivas", e chega agora à estação pública, trazendo estas temáticas para o espaço público e, quem sabe, para debate por uma escola melhor. "Espero que seja um ponto de partida para a comunicação entre pais e filhos, professores e alunos e, idealmente, entre as pessoas influentes na proteção de todos", espera a atriz.
Entre uma primeira estreia e esta que chega agora à RTP, que receção teve a sua personagem e a história que ela traz?
Temos recebido feedback muito positivo. Nomeadamente, pelo público sentir que os temas dos professores, depressão e suicídio, holofote que esta série lhes dá.
Recebeu mensagens de professores e professoras? Pais? Alunos?
Recebi. Infelizmente há muitas pessoas que se identificam com os temas da série O Grito, nomeadamente a depressão, o bullying, e as dificuldades vividas pelos professores em geral.
Alguma história ou confidência que possa partilhar e que tenha tocado mais?
O que partilharam comigo foi em privado. E permanecerá assim. Posso dizer que, para mim, sentir que o público se identifica ou se sente visto através das personagens que interpreto é sempre compensador. Só demonstra o quão importante é contar estas histórias.
[Foto: Divulgação RTP]
Como se preparou para esta personagem?
Pesquisei sobre a depressão, assisti a entrevistas de psicólogos e de pacientes diagnosticados com depressão. Como esta doença nos afeta fisicamente; o que leva uma pessoa a sentir que não quer viver mais, mesmo tendo filhos e família que precisam dela. Como, muitas vezes, as pessoas mais próximas não identificam que há um problema. Como a falta de comunicação sobre o que sentimos pode comer-nos vivos por dentro. O realizador Leonel Vieira também construiu a personagem comigo, insistindo para que Vitória nunca sorrisse. Este detalhe acabou por afetar o resto da minha fisicalidade e vida interior.
Em que medida o seu percurso pessoal escolar ou as suas experiências pessoais que viveu na escola fizeram parte deste trabalho como atriz?
Para mim foi uma jornada de aprendizagem e pesquisa. Não só não tive a escolaridade portuguesa, como também cresci numa época diferente, em que muitos destes temas não eram falados em voz alta. Olhando para trás, com aquilo que sei hoje, houve muitos momentos, tanto na minha vida como na dos outros à minha volta, que poderiam ter sido lidados de forma diferente. Estamos sempre a aprender.
[Foto: Divulgação RTP]
O que foi mais difícil para si como atriz, tendo em conta a personagem que fez: trabalhar a burocracia em que os professores vivem? Trabalhar o bullying com o qual têm de lidar e gerir? Trabalhar os desafios da estrutura hierárquica? Outros?
Foi tudo um desafio bem-vindo. Em relação ao bullying é importante identificar que a presença dos telefones e redes sociais nas mãos dos mais jovens, exacerbou sem dúvida o problema, que sempre existiu em todas as gerações. Observar também que há tantos professores que querem dar tudo e fazer o seu melhor pelos alunos, mas são bloqueados pela burocracia e pelos egos é frustrante.
Esta série tem uma componente atual: em que medida espera que possa imputar medidas políticas quer nas escolas, quer junto dos professores, quer junto de alunos, quer ao nível da saúde mental da comunidade escolar?
Espero que a série traga diálogo e que seja um ponto de partida para a comunicação entre pais e filhos, professores e alunos e, idealmente, entre as pessoas influentes na proteção de todos. Informação é poder, e se a nossa série servir para informar, para mim é uma "Vitória".

