Ministra para compras públicas gerada por IA levanta questões de transparência e responsabilização
A ministra virtual, que é incarnada por uma conhecida atriz albanesa, terá de gerir digitalmente os processos de contratação fora dos ministérios, com o objetivo de reduzir o risco de crime e corrupção, problemas que assolam a Albânia há décadas.
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A ministra virtual Diella, gerada por IA, para as compras públicas da Albânia, que há alguns dias gerou impacto nos media, está a levantar questões sobre transparência, responsabilização e potenciais violações de cibersegurança associadas a esta experiência. A 11 de setembro, o primeiro-ministro albanês, Edi Rama anunciou a criação de Diella, que significa sol em albanês, a primeira-ministra criada por inteligência artificial (IA) no mundo.
De acordo com a oposição e alguns especialistas em informática albaneses, refere a Efe, uma insuficiente transparência em torno das ações de Diella pode permitir que as autoridades estatais se "escondam" por detrás das suas decisões, evitando assim a responsabilização. Outra fonte potencial de insegurança são as possíveis falhas de cibersegurança.
Diella, que foi lançada em janeiro como uma assistente virtual criada por IA, vestida com um traje tradicional albanês, para ajudar a população a utilizar a plataforma oficial e-Albania, que disponibiliza documentos oficiais e diversos serviços, foi nomeada pelo Governo albanês, liderado pelo social-democrata Edi Rama, que tomou posse na quinta-feira.
A ministra virtual, que é incarnada por uma conhecida atriz albanesa, terá de gerir digitalmente os processos de contratação fora dos ministérios, com o objetivo de reduzir o risco de crime e corrupção, problemas que assolam a Albânia há décadas.
Erjon Curraj, especialista em transformação digital albanês, apontou, num artigo publicado na quinta-feira pela Rede de Jornalismo de Investigação dos Balcãs (BIRN), que um sistema fiável de compras públicas baseado em IA deve deixar um "rasto digital verificável" que comprove os dados utilizados.
Salientou que as lacunas na fiabilidade e a pouca transparência podem permitir às autoridades evitar a responsabilização e que as falhas de cibersegurança podem levar à apropriação indevida de milhões de euros em fundos públicos.
"Cumprir o padrão irá exigir experiência e recursos que a Albânia ainda não tem em quantidade suficiente", alertou Curraj.
Perante estes alertas, os parlamentares da oposição denunciaram a medida de Rama como "propaganda".
"Diella não é uma visão, mas uma fachada virtual para esconder os enormes roubos diários deste Governo", afirmou Gazment Bardhi, do Partido Democrata (oposição), esta semana.
"O objetivo não é mais do que atrair a atenção", disse o ex-primeiro-ministro Sali Berisha, que acrescentou que conceder a Diella o cargo ministerial é "inconstitucional" e prometeu contestar a medida em tribunal.
Já o especialista independente em computação Denis Bakiu explicou à EFE, a partir de Tirana, que a Diella foi desenvolvida com tecnologias inovadoras, como o Azure OpenAI da Microsoft, que utiliza três modelos de IA.
"Um modelo processa perguntas e respostas, outro gera conteúdo em albanês e um terceiro gere os movimentos do avatar, incluindo gestos corporais e manuais", disse Bakiu.
De acordo com o especialista, a Diella é capaz de executar ordens com base na informação a que tem acesso e pode personalizar tudo para uma pessoa, empresa ou instituição.
Dada a falta de informação detalhada sobre o projeto, o público albanês especula quem poderá estar por detrás desta iniciativa, que tem atraído a atenção global nos últimos dias.
De acordo com uma reportagem transmitida pelo canal de oposição Syri TV, em Tirana, o projeto Diella estaria alegadamente ligado ao ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e à sua mulher, Cherie.
A estação de televisão alega que a consultora Omnia Strategy, de Cherie Blair, e o Instituto Tony Bair para a Mudança Global estão envolvidos.
"O próprio instituto de Tony Blair admitiu isso nas suas publicações, nas quais inclui a Diella 2.0 entre os seus projetos exclusivos financiados por instituições internacionais", noticiou a Syri TV, e tudo indica que está a ser desenvolvida uma versão atualizada chamada Diella 3.0.