Olga Roriz: "Sempre tive pudor da exposição física e, de repente, nesta idade é que me dispo em palco”
Mais de uma década depois, a bailarina e coreógrafa Olga Roriz regressa a cena a solo para se mostrar a si própria e ao que salvou da sua caminhada de 70 anos de vida e de meio século de carreira. 'O Salvado' chega a Lisboa esta quarta-feira, 9 de julho
Corpo do artigo
No ano em que assinala 70 anos de vida, 50 de carreira e 30 de companhia, a bailarina e corógrafa Olga Roriz volta aos palcos a solo com O Salvado. Neste espetáculo junta o autorretrato, o que guardou do seu caminho, o seu corpo e o humor, eixos que viveu ao longo de décadas de trabalho e outros que foi encontrando nas residências artísticas que fez no último ano.
Depois de ter passado pelo Porto, a coreógrafa traz este espetáculo para o Teatro São Luiz, Lisboa, de 9 a 12 julho, e segue depois para digressão até ao final do ano. Na tarde de apresentação de Topologia do Tempo, o caderno de criação de O Salvado, a coreógrafa falou do registo do processo criativo por trás da peça homónima e da “vontade de falar com o público”, como afirmou na apresentação, que teve lugar no São Luiz, na terça-feira, 7 de julho.
“Logo na segunda residência [artística] surge o humor, um bocado esquisito essa coisa do humor em mim a aparecer de uma forma muito forte”, descreve. “Há um impacto em mim como bailarina, com a minha idade, mulher, ser humano que não pode ou que não deve - comecei eu a perceber – esconder. Que não ficava bem”, assinala. Por isso, regressou ao palco com a premissa: “O melhor é mostrar e depois ser eu a comentar. É preferível que seja eu a fazê-lo do que outra pessoa qualquer.”
“Aparecem umas cenas de exposição física em que eu própria comento essa exposição. Sempre tive muito pudor da exposição física e, de repente, nesta idade é que me dispo completamente em cima de um palco”, revela. “Estranho, mas é o que é”. Olga Roriz fala não em uma, mas “em duas Olgas” que sempre existiram: “a coreógrafa e a bailarina e intérprete, brincamos um bocado uma com a outra”, diz.
De volta ao palco mais de uma década depois de o ter feio a solo, a coreógrafa e bailarina revela que a idade traz mudanças, mas a dança é hoje melhor. “As dores existem mas já foram piores”, adiantou em conversa com o JN a propósito deste espetáculo que diz ter sido desenhado à medida do seu corpo e das suas capacidades. “Se nos lembrarmos de todos os coreógrafos que continuaram a dançar com longevidade, foi porque desenharam espetáculos à sua medida; com a sua linguagem, o seu corpo. O que quero mesmo é conseguir fazer os espetáculos com prazer”, referiu.