A-dos-Francos celebra feito histórico de João Almeida com emoção e orgulho familiar
O segundo lugar de João Almeida na Volta a Espanha foi recebido com entusiasmo em A-dos-Francos, freguesia do concelho das Caldas da Rainha, onde o ciclista cresceu.
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"Foi uma festa cá em casa", conta Luísa Gonçalves, avó de João Almeida, que revela ter gritado e brindado à saúde do neto assim que se confirmou o resultado. "O meu Joãozinho é um orgulho muito grande para nós", disse à Lusa a avó do atleta, que não esconde a emoção ao recordar os momentos vividos durante a competição.
João Almeida tornou-se o segundo português a subir ao pódio da Vuelta, igualando o feito de Joaquim Agostinho em 1974. A avó, que o viu crescer e que o acompanhou nas primeiras provas de BTT, recorda que "ele sempre foi muito trabalhador e dedicado".
"Já se via que tinha vocação", recorda à Lusa.
A avó considera que o feito "é merecido", sublinhando que o neto "trabalha muito e gosta sempre de alcançar um bom lugar". Embora admita que João Almeida gostaria de ter vencido, acredita que "ficar em segundo foi já uma vitória enorme", especialmente tendo em conta as dificuldades da prova e os protestos que afetaram algumas etapas.
Durante as três semanas de competição, Luísa não perdeu uma única transmissão.
"O meu trabalho ficava para trás. Três, quatro horas em frente à televisão, sempre a torcer por ele", descreve. Quando o neto surgia no ecrã, especialmente nas subidas mais duras, a reação era imediata. "Dava um salto no ar, abria os braços e dizia: "vai ele!".
A história de João Almeida no ciclismo começou cedo, com provas de BTT. A transição para o ciclismo de estrada surgiu após vários sucessos nas competições nacionais, e foi nesse novo terreno que o atleta consolidou a sua carreira. A avó recorda que, mesmo com alguma hesitação inicial, João rapidamente se adaptou e começou a vencer etapas e a conquistar prémios.
"O pai ofereceu-lhe uma bicicleta e ele começou a ir a provas de BTT. Ganhava quase sempre, ficava em primeiro ou segundo. Depois passou para estrada e começou a destacar-se", recorda.
Durante a Vuelta, parte da família esteve em Espanha para apoiar o ciclista, embora Luísa tenha permanecido em casa devido à saúde do marido. Ainda assim, sentiu-se próxima do neto através das imagens televisivas e das mensagens que trocou com ele, mesmo que breves, após as etapas.
"Ficámos em casa, mas sempre ligados pela televisão. Era como se ele estivesse ao pé de nós", conta.
Segundo Luísa, apesar da fama internacional, João Almeida mantém-se próximo da família e da terra.
"É muito grato às pessoas, muito simples. E respeita sempre o seu lugar", afirma Luísa, que considera que o neto "tem fãs em todo o mundo" e que "a vila está conhecida em Portugal e no estrangeiro por causa dele".
Para o presidente da Junta de Freguesia, Paulo Sousa, trata-se de um feito que transcende o desporto e reforça o orgulho coletivo da comunidade.
O autarca considera que o resultado alcançado por João Almeida "é extraordinário", não apenas pelo valor desportivo, mas pela ligação afetiva que o atleta mantém com a terra.
"Um jovem criado na nossa freguesia e que sempre aqui residiu obter um resultado destes, igualando o melhor de sempre de um português numa grande prova do World Tour, é motivo de extremo orgulho", sublinha, acrescentando que "toda a gente sente-se muito satisfeita quando ouve falar em A-dos-Francos na televisão e na comunicação social".
A Junta tem procurado acompanhar e valorizar o percurso do ciclista com várias iniciativas, entre as quais se destaca o Prémio João Almeida, já na terceira edição. Realizado entre julho e agosto, o evento pretende homenagear o atleta e, simultaneamente, incentivar a prática da modalidade entre os mais jovens.
"Conseguimos juntar muitos praticantes, dar visibilidade ao clube local e captar novos talentos, aproveitando a marca que o João representa", explica Paulo Sousa.
O impacto da carreira do ciclista tem sido visível na dinâmica desportiva da região. Segundo o presidente, registou-se um aumento significativo de jovens interessados em praticar ciclismo, especialmente no clube EcoSprint, sediado em A-dos-Francos num edifício desenvolvido pela Junta para centro de estágio.
"Houve um verdadeiro boom. Entretanto, já surgiu outro clube nas Caldas da Rainha, o que mostra como o exemplo do João está a contagiar a juventude", afirma.
Mas o efeito João Almeida não se limita ao desporto. O autarca destaca também o impacto turístico e económico que a projeção internacional do ciclista tem gerado. "Há um fluxo constante de pessoas que querem visitar a terra, conhecer o monumento que fizemos em homenagem ao João. Isso traz movimento, traz negócios e é sempre um motivo de satisfação para a freguesia", refere.
Durante a conversa com a Lusa, a avó de João Almeida referiu que a memória da camisola rosa no Giro d"Italia, em 2020, permanece viva na aldeia, onde as ruas foram decoradas com fitas cor-de-rosa numa celebração espontânea. Para Luísa, esse momento foi um dos mais emocionantes da carreira do neto, e um símbolo do carinho que a comunidade tem por ele.
Foi uma emoção enorme. As árvores estavam todas decoradas com fitas cor-de-rosa. Foi mais bonito que a festa do ano", recorda, sublinhando que "só de olhar para aquilo, vinham lágrimas aos olhos".
A avó acredita que o neto ainda tem muito para dar ao ciclismo. Com apenas 27 anos, considera que João poderá vir a vencer uma das três grandes voltas. A fé no futuro é acompanhada por uma certeza: o sucesso que tem alcançado é "merecido e resultado de esforço constante".
"O sucesso é dele, o mérito é dele. E nós estamos aqui, sempre a torcer."