Tomás Matos sofre de paralisia cerebral e estreou-se, no sábado, em jogos oficiais de futebol. João Ricardo, treinador dos juniores do Santa Marta de Penaguião, elogia a dedicação do jovem e fala numa decisão natural, que visou premiar o seu empenho em cada treino. O pai de Tomás, Nuno Matos, define o momento como uma "grande vitória" do filho.
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Tomás Matos, jovem de 15 anos que sofre de paralisia cerebral com um grau de incapacidade de 75%, cumpriu um sonho, no último sábado, ao estrear-se pela equipa de juniores do Santa Marta de Penaguião em jogos oficiais.
O momento deixou Tomás "super eufórico", conta o pai, Nuno Matos, "orgulhoso" por mais uma "grande vitória" do filho. "Ainda ontem estava maravilhado, dizia que não conseguia dormir. Está radiante, anda todo feliz", acrescenta o progenitor, enquanto recorda o sorriso que o filho levava na cara quando foi chamado para o aquecimento. "Isso enche-me de orgulho", confessa.
A comandar o plantel júnior do Santa Marta de Penaguião está João Ricardo, que é, também, atleta da equipa principal do clube do distrito de Vila Real. O técnico, de 21 anos, confessa-se surpreso com a repercussão mediática que a sua decisão acabou por ter.
"Comentei com os meus pais que não estava à espera de que aquilo que fiz tivesse esta dimensão. Na minha cabeça estava apenas dar oportunidade ao Tomás porque ele merecia-a", explica.
"Para nós, ele é um menino como os outros", acrescenta o treinador. "Até este ano, nunca tinha jogado futebol pela incapacidade que tem, mas não falha um treino", acrescenta. Esta época, "ele já tinha jogado em jogos-treino", e acabou por "realizar o seu sonho" no sábado, com a estreia em encontros oficiais. Foi diante do Vila Real B, jogo que o Santa Marta perdeu por 4-0.
"Não tinha falado com o Tomás antes do jogo no sentido de ele poder jogar, mas tinha-lhe dito que, um dia, ele ia ter uma oportunidade. Quando o mandei aquecer, quem estava na bancada viu a felicidade dele. Entrou a cerca de dez minutos do fim. Para mim, e para quem ali estava, foi emocionante. Vieram-me as lágrimas aos olhos, porque era notória a felicidade no rosto dele quando o chamei para entrar", relata João Ricardo.
Tomás, extremo esquerdo de posição, procurou aproveitar a oportunidade ao máximo. "Ele entrou num jogo em que tivemos a infelicidade de, por volta dos 30 minutos, ficar a jogar com 10. Foi muito mais difícil termos bola, mas ele ainda tocou nela. Às vezes, nos treinos, pensamos que ele pode não conseguir fazer um ou outro exercício, mas ele fá-los. É um menino muito esforçado. No jogo foi um bocado assim também", refere o treinador.
Após o apito final, era notória "a felicidade do Tomás, a euforia por se ter estreado pelo clube da terra e do coração", recorda João Ricardo.
O pai do jovem futebolista, Nuno Matos, é o presidente do Santa Marta de Penaguião. Assumiu o cargo após o falecimento do sogro, José Rodrigues, em maio deste ano. Esta época, o clube decidiu inscrever uma equipa de juniores no campeonato distrital de Vila Real, e Tomás, juntamente com um dos irmãos, Bernardo, quis tentar a sua sorte.
"Era importante ele fazer parte de uma equipa, para a sua integração, e a verdade é que foi muito bem acolhido pelos colegas. Para nós, é um orgulho receberem-no tão bem. Tem sido convocado, viaja com a equipa e teve a felicidade de entrar neste jogo", diz Nuno Matos, que não esquece o sogro e antigo presidente do clube: "O avô, que faleceu há cinco meses, estará lá em cima a olhar por eles".
Tomás Matos é um apaixonado pelo Santa Marta de Penaguião. "Sempre acompanhou o clube. É um daqueles jogadores que está sempre atento aos resultados e ao que a equipa sénior faz", conta João Ricardo. Tem no primo, Guilherme Guedes, contratado este verão pelo Almería ao Vitória de Guimarães, a grande referência, mas também ficou fã do brasileiro Francisco Neto, defesa que joga atualmente no Vilar de Perdizes e que passou a época passada em Santa Marta de Penaguião.
"Os pais dele já me agradeceram, mas mais importante do que isso foi ver a felicidade do Tomás quando o chamei e entrou em campo", reforça o treinador, João Ricardo. Porque os sonhos, quando realizados, têm esse poder de nos encantar, um sentimento que contagia.