
Jannik Sinner e Carlos Alcaraz no US Open, em Nova Iorque, em setembro
Foto: Clive Brunskill / Getty Images via AFP
Quem será a dupla ou o trio que vem substituir a rivalidade dos três grandes, Federer, Nadal e Djokovik na nova geração do ténis? A resposta só o tempo dirá. Ainda assim, uma coisa é certa: o ténis continua a ser definido por duelos intensos, que marcam a história e geram adeptos em todo o mundo. Com a ascensão do espanhol Carlos Alcaraz e do italiano Jannik Sinner, uma nova geração de protagonistas já se ergue para escrever o próximo capítulo de rivalidades lendárias.
Corpo do artigo
Foi em 2022 no US Open, que se deu o início de uma nova era. Nos quartos-de-final, Alcaraz venceu Sinner em Nova Iorque, com cinco sets, ao fim de cinco horas e quinze minutos, terminando às 2.50 da madrugada. Nunca um jogo havia terminado tão tarde, na história do torneio. Desde esse dia, o espanhol e o italiano mantêm uma rivalidade que os faz crescer a cada encontro.
Em 2025, encontraram-se em três finais consecutivas do Grand Slam: no Roland Garros em Paris, num duelo de quase cinco horas e meia, onde Alcaraz salvou três match points antes de vencer. Também no torneio mais antigo, o Wimbledon, conquistado por Sinner, que se tornou o primeiro italiano a erguer o troféu londrino. De volta a Nova Iorque, no US Open, Alcaraz voltou a impor-se, conquistando o seu segundo título no torneio.

Foto: Clive Brunskill / Getty Images via AFP
O balanço atual entre os dois mostra Alcaraz em vantagem: dez vitórias contra cinco de Sinner. Mas o equilíbrio é evidente, com cada um dos jogadores a conseguir triunfos decisivos nas maiores arenas. Além dos números, o que alimenta esta rivalidade é a intensidade. "Vejo-te mais do que à minha própria família", brincou Alcaraz, ainda na quadra, depois da vitória na final do US Open. Sinner, por sua vez, admitiu à BBC que acorda a pensar em formas de o superar.
"Eu dou 100% todos os dias para melhorar, sento-me com a equipa para ver o que posso fazer melhor para vencer Jannik e ganhar mais troféus", revelou Alcaraz à televisão britânica, explicando que trabalhou intensamente para reforçar o serviço, considerado um dos pontos mais fracos do seu jogo. "Ter essa rivalidade significa muito, é super especial para mim, para ele e para as pessoas que gostam de nos ver a jogar", afirmou. Rivalidade, amizade e respeito coexistem num duelo que promete marcar o ténis da próxima década.
No ténis feminino não é diferente, Świątek e Sabalenka prometem ser a dupla rival do momento
No quadro feminino, o duelo do momento é entre a polaca Iga Świątek e a bielorrussa Aryna Sabalenka. Desde 2020, as tenistas têm dominado os torneios do Grand Slam e os primeiros lugares do ranking mundial. Świątek soma cinco Majors, quatro deles em Roland Garros, enquanto Sabalenka já conquistou três, incluindo dois Opens da Austrália.

Iga Świątek
Foto: EPA
A primeira vez que se encontraram num palco de alto impacto foi, tal como a dupla rival masculina, nas meias-finais do US Open de 2022, vencidas por Świątek, que veio depois a erguer o título do torneio. Desde então, a rivalidade intensificou-se, com finais no Woman"s Tennis Association (WTA) Finals, em Madrid e Estugarda, a acrescentar à perseguição constante pelo número um mundial. A rapidez e o estilo tático e cauteloso de Świątek, capaz de séries de vitórias consecutivas em mais de 30 jogos, contrasta com o estilo potente e agressivo de Sabalenka, particularmente eficaz em pisos rápidos e caracterizado pelo forte serviço e golpes decisivos ao fundo do campo.
Aryna Sabalenka
Foto: AFP
"As rivalidades são tudo, para os fãs, para os torneios. Havia rivalidade entre mim e a Chris, também havia rivalidade entre as irmãs Williams", disse recentemente a antiga campeã Martina Navratilova, ao "The New York Times", recordando como ela e Chris Evert definiram gerações mesmo sendo adversárias. "Adoro ver isso. Adoro ver as emoções que saem no limite dos atletas. Ver um jogador que está a ter aquela experiência de estar muito nervoso", sublinha Kim Clijters em entrevista para o mesmo jornal.
A WTA, consciente disso, lançou um rebranding no ano passado para elevar o perfil das suas estrelas, mas apesar de todo o dinheiro, patrocínios e marketing, o maior benefício que poderia existir seria o florescimento de uma rivalidade adequada no topo do desporto, tal como se começa a observar com Świątek e Sabalenka. A intensidade dos confrontos não só capta a atenção dos fãs da modalidade, como também criam a narrativa competitiva de topo, essencial para reforçar a atratividade no ténis feminino, tal como aconteceu com as rivalidades históricas no circuito masculino.
A disputa entre a polaca e a bielorrussa já transcende os números. É vista como uma oportunidade de o ténis feminino ganhar mais destaque e de se projetar para um público mais amplo, "é um ponto de destaque para aqueles que talvez estejam interessados, dá-lhes conhecimento no desporto que de outra forma não teriam", afirma o consultor de marketing desportivo Nigel Currie ao "The New York Times".
As rivalidades são tão atraentes porque, ao levar os jogadores aos seus limites desportivos, também revelam elementos das suas personalidades, que é muitas vezes o que o público gosta de ver.
A influência das irmãs Williams no ténis feminino das últimas duas décadas

Serena Williams
Foto: AFP
Ainda no circuito feminino, Serena Williams é a figura central do ténis há quase vinte anos. Antes de Serena e da sua irmã Venus, parecia que havia muitas jogadoras diferentes a vencer, ou que as rivalidades não eram muito duradouras ou intensas como acontecia com os três grandes no masculino.
No entanto, a rivalidade entre Serena e Venus era complicada, nunca ninguém tinha visto essa competitividade entre irmãs, e devido à proximidade, não são o melhor exemplo de rivalidade. Contudo, com a forte dominância de Serena, esta deixou de ter adversárias adequadas.

Venus Williams
Foto: Getty Images via AFP
Mais tarde, Serena encontrou Maria Sharapova, uma adversária mediática, ainda que desequilibrada em campo. Williams conquistou vinte vitórias e foi derrotada apenas duas vezes pela russa. "Joguei contra Serena pela primeira vez em 1999", revela Kim Clijsters "E pensei: Meu Deus, ela acerta na bola com força. Contra Vênus, ok, não sei se podia melhorar o meu alcance, mas a maneira como ela era capaz de se mover de um lado para o outro... nunca tinha visto isso.", acrescenta.
Clijsters acredita que os níveis de Iga Świątek e Aryna Sabalenka vão aumentar significativamente se continuarem a jogar entre si. "Cada vez que a enfrento, melhoro, ela obriga-me a melhorar", disse Sabalenka em relação à adversária polaca numa conferência de Imprensa no Open da Austrália, em janeiro.

Maria Sharapova
Foto: AFP
Já em junho, a atleta bielorussa revelou: "Temos ficado próximas desde que lhe pedi para fazer um TikTok comigo no ano passado, e pensei: Ok, talvez possamos comunicar, ter uma boa relação uma com a outra e até treinar às vezes".
Independentemente de quão bem as atletas se relacionem, muitos esperam que esta possa ser outra grande rivalidade no desporto. Ainda que já surjam opiniões que apontam ao facto de a nacionalidade de Aryna poder ser um obstáculo. Ao "The New York Times", a "antiga número" um, Martina Navrátilová opina que Aryna Salabenka pode não conseguir alcançar todo o seu potencial comercial, visto que não lhe é permitido exibir a bandeira da Bielorrússia ao lado do seu nome.
O poder da rivalidade: como os Big Three moldaram o ténis moderno
Então, o que faz uma grande rivalidade no ténis? Possivelmente o equilíbrio, e jogos bastante frequentes são chave. Mas também o contraste de personalidades e de estilos de jogo podem contribuir.
Se o presente olha para as duplas de Sinner e Alcaraz, ou para Świątek e Sabalenka, a década passada foi marcada pela supremacia dos "Big Three": o suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic.
Por quase duas décadas, os três dividiram praticamente todos os Grand Slams e protagonizaram a rivalidade mais duradoura do ténis, com cerca de 50 encontros por cada uma das duplas e jogos históricos em Roland Garros e em finais do Australian Open. Djokovic, Federer e Nadal tornaram-se os clássicos do ténis, com estilos contrastantes.
Federer, com o seu jogo ofensivo marcado pelo "backhand" e dominante em campos de relva como no Wimbledon, o qual venceu 8 vezes. Nadal, com o domínio no forehand com topspin pesado, consistência implacável no fundo do campo e 14 vitórias em piso de terra batida. E, por fim, Djokovic, com o seu lendário "backhand" de duas mãos e a capacidade de neutralizar serviços através de um dos melhores "returns" da história, talvez o melhor atleta da história em piso rápido.
