Luton Town foi salvo pela comunidade local e hoje pode chegar à elite. Há menos de 10 anos estava na quinta divisão.
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Para aceder ao Kenilworth Road, o estádio do Luton Town desde 1905, os adeptos visitantes têm que entrar num bar, atravessá-lo até uma porta dos fundos, passar ao lado de jardins e à porta de várias casas da vizinhança e subir umas escadas modestas até, por fim, chegarem à bancada que lhes é destinada. E na próxima época, é bem possível que este trajeto seja percorrido pelos adeptos de Liverpool, Manchester City, Manchester United, Chelsea e de todos os outros clubes da cheirosa e bem penteada aristocracia da Premier League, assim o Luton Town derrote o Coventry, na final do playoff do Championship (hoje, às 16.45 h) e culmine um ressurgimento que se fez com sangue, suor, lágrimas e trocos dos adeptos e da comunidade local.
Em 2009, o Luton estava esfarrapado e cadavérico. Perdeu pontos na secretaria, desceu de divisão em anos consecutivos e financeiramente era um buraco. Fechar portas foi uma possibilidade fortíssima. "Este clube devia ter desaparecido", disse Gary Sweet, CEO, recentemente à "BBC". Quem o salvou foram os adeptos, concretamente um consórcio criado de propósito para, acima de tudo, não deixar morrer o futebol na localidade. Depois logo se via. Desde aí, são os adeptos que controlam o Luton Town, que tomam as decisões mais importantes e é um grupo mais pequeno, escolhido por eles, a gerir o clube. A operação de resgate foi tão simbólica e significativa que a queda, pela primeira vez na história, nos escalões não-profissionais nessa mesma altura quase foi esquecida.
O que se seguiu foi uma ressurreição histórica, até pelos limites económicos impostos pelos próprios, escaldados dos dias de desvario, descontrolo e irresponsabilidade financeira. Ao mesmo tempo que se recompunha e recuperava a saúde, o Luton ainda penou alguns anos no quinto escalão e só em 2014 é que voltou a ter o estatuto profissional, naquele que foi o ponto de partida de uma cavalgada até chegar às portas da elite, estando agora a um jogo, frente ao Coventry - com quem esteve no quarto escalão em 2017 -, de superar quatro divisões em menos de uma década, deixando pelo caminho equipas com orçamentos duas, três, quatro, cinco, seis vezes maiores. Nesta temporada, estava no top-3 das equipas que menos gastaram em contratações e em salários. Kenilworth Road, que só tem capacidade para cerca de 10 mil espectadores, está, mesmo assim, na iminência de se tornar no estádio mais pequeno da história da Premier League e o Luton de ser o único clube gerido e controlado por adeptos na grande liga inglesa.