Especialistas médicos ouvidos, esta sexta-feira, pelo JN associam singularidade do caso do treinador do Benfica à probabilidade da existência de uma patologia anterior geradora de sintomas semelhantes à covid-19.
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Depois de vários dias com sintomas e muitos testes negativos - o Benfica explicou que foram sete nas últimas semanas - Jorge Jesus testou positivo para à covid-19, num caso em que os encarnados consideram "atípico e de índole rara". O treinador já está isolado, "estável" e vai, para, já falhar o clássico com o Sporting, em Alvalade, além de cumprir o protocolo vigente que prevê no mínimo dez dias de isolamento.
Estes casos vão talvez aparecer com mais frequência
Face à singularidade da situação, pelo facto de o técnico apresentar sintomas associados ao novo coronavírus - febre alta e tosse pelos menos desde o último sábado - e só testar positivo dias depois de várias despistagens que indicavam o contrário, num cenário diferente ao habitual, o JN escutou alguns especialistas com intuito de perceber o caso e da eventualidade de podermos estar perante um novo quadro ou variante em que o vírus não fosse detetado numa fase inicial.
"Estes casos vão talvez aparecer com mais frequência. Estamos na altura do ano em que as infeções respiratórias são muito frequentes e pode ter sido uma coincidência. O que é provável é que seja uma infeção de SARS-COV 2 e que a explicação dos sinais clínicos anteriores se deva a outras infeções respiratórias, muitos comuns nesta altura", defendeu Pedro Simas, virologista, em declarações ao JN.
O comunicado do clube refere um caso "atípico", hipótese que o responsável admite, mas considera "pouco provável". "O mais provável e que, com tanta infeção respiratória e uma panóplia de microrganismos que as causam, é natural, numa pandemia, que as pessoas tenham um quadro respiratório e depois possam contrair esse vírus. É perfeitamente normal. E é bom que estejam alertadas para isso, não entrem logo em pânico, nem ponham de modo algum em causa os testes feitos em todo o mundo, através de uma metodologia existente há mais de 30 anos, perfeitamente robusta, precisa e sensível", acentuou.
Nuno Simas acentua ainda a ideia. "O que seria mais bizarro é que no caso de Jorge Jesus tivesse aparecido a carga viral detetável por RT-PCR depois dos sintomas, pois o teste é muito sensível e o que é típico e torna o vírus tão pandémico é precisamente as pessoas não saberem que estão infetadas, mesmo as que vão ter a doença clínica, e dois dias antes já são contagiosas e espalham o vírus", acentuou.
No seu entender não existem motivos para duvidar da eficácia dos atuais testes. "De modo algum e em termos clínicos também não devemos estar preocupados que seja um caso atípico ou aberrante. Mesmo que o seja não tem implicações nenhumas. Está infetado, está infetado. Se for grupo de risco é preciso ter cuidado, se não for é preciso passar pela infeção", observou.
Ricardo Mexia, especialista em Saúde Publica, por sua vez, não excluiu qualquer possibilidade, mas também aceita como mais "plausível" a associação dos primeiros sintomas a outra doenças: "Há várias coisas que podem ter acontecido. Um quadro inicial de outro problema respiratório e que depois a pessoa se infeta com covid-19. Pode também haver algum problema com a colheita dos testes. Tipicamente, os PCR são particularmente sensíveis e não é muito provável termos um número elevado de falsos negativos, exceção feita a problemas com a colheita. É possível, mas improvável que haja problemas com a testagem ainda por cima com múltiplos testes", defendeu.
De acordo como o especialista, a possibilidade da existência de uma variante não detetável pelos atuais testes é negada à luz do atual conhecimento, embora genericamente nenhum eventual novo quadro possa ser totalmente excluído.
"Os testes que aplicamos são eficazes para detetar as diferentes variantes. Depois é preciso genotipar para ver de qual se trata, mas para identificar o vírus não têm tido problema até agora. No entanto, deste o início que se provou que em relação a esta pandemia temos de ter sempre alguma humildade em relação ao conhecimento. Mas pelo que sei, a resposta é não. E os atuais dados não apontam nesse sentido. Todavia, atendendo ao que fomos verificando, não é de excluir nenhuma possibilidade, mas acho improvável que assim seja".