A cumprir a quarta época no F. C. Porto, Alex Telles assume-se como portista e portuense. Ligado ao clube até 2021, não olha às questões contratuais e só pensa nos títulos e em festeja-los nos Aliados. Garante que, no balneário, todos remam para o mesmo lado e admite que lá já se fala da Supertaça Europeia. Nesta entrevista ao JN também mostra os motivos pelos quais já é uma referência do clube.
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O final do ano é um período de balanços. Como analisa 2019 em termos desportivos?
No F. C. Porto faltaram os títulos, mas considero que fizemos um ano maravilhoso. Chegamos aos quartos de final da Champions... Faltaram os títulos da Liga, das Taças da liga e de Portugal, momentos que pesaram muito. Mas sabemos que o futebol nos dá sempre uma nova oportunidade. Estamos a trabalhar muito para que os títulos voltem para nós. E que volte a ser rotina o F. C. Porto ganhar títulos. A nível pessoal, 2019 foi um ano muito positivo. Fui convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, um sonho realizado. Tenho uma gratidão muito grande pelo clube, que me proporcionou esse momento. Chegar à seleção brasileira através do F. C. Porto e jogar no Dragão foi especial.
Pode dizer-se, então, que os objetivos para 2020 passam por ganhar títulos com o F. C. Porto e voltar à seleção?
Com certeza. Acredito que o trabalho, quando é bem feito, desperta bons olhares e foi isso que me levou à seleção. A nível coletivo, sim, trabalhamos todos os dias para isso, para reconquistar o campeonato. É uma luta diária, um trabalho muito difícil, mas tenho a certeza que vamos ser todos compensados no final da época.
Entregou a camisola da estreia pela seleção a Pinto da Costa, que a pôs no Museu do F. C. Porto. Isso significou muito para si?
Sempre disse que queria deixar um legado aqui, que seria de muitas formas, não só dentro de campo, mas também fora dele, tendo uma boa relação com todos. Estou a conseguir. Tenho uma relação muito boa com o presidente, ele acolheu-me bem, fez-me sentir em casa desde o primeiro dia. Quando cheguei à seleção nem pensei duas vezes, decidi entregar uma camisola ao presidente. Fiquei ainda mais feliz por ele aceitar e por a ter colocado no museu. É uma história bonita que fica muito bem escrita.
Recentemente recebeu de Danilo a camisola de Portugal. O que significou para si essa lembrança do capitão? É mais uma prova da união?
A saúde do nosso balneário nunca esteve em causa. É um grupo maravilhoso. Todos remam para o mesmo lado. O Danilo é uma pessoa por quem tenho imenso respeito, quem tiver oportunidade de o conhecer fora do campo sabe que é uma pessoa cinco estrelas. Não podia perder a oportunidade de lhe pedir uma camisola de Portugal, ainda mais a dele, a 13, um número especial para mim. Ele não hesitou e pode ter a certeza que já está guardada com carinho.
Voltando à Liga, apesar dos quatro pontos de atraso para o Benfica, sente que ainda é possível o F. C. Porto chegar ao título?
Nem é questão de acreditar, é uma questão de ver que o campeonato é muito longo, há muitos pontos para disputar. Estamos a quatro, mas também já estivemos na frente. Como o míster disse, e com razão, o nosso grupo é muito forte e temos total confiança e qualidade para chegarmos em primeiro no final. Se não tivermos confiança, então o que estamos aqui a fazer?
Depois do empate com o Belenenses e, segundo o que é público, na roda final, Sérgio Conceição passou a mensagem de que o F. C. Porto "é melhor do que os outros". Como foi ouvir essas palavras de confiança?
Foi fundamental. A partir do momento em que deixámos de ganhar dois pontos, num jogo muito difícil, quando lutamos ponto a ponto, obviamente ficamos um pouco tristes, um pouco desiludidos e tenho a certeza que o míster disse isso não só para nos motivar, mas também porque é o que sente. Sabemos que somos os melhores.
Na última época, o F. C. Porto perdeu as finais das taças da Liga e de Portugal. Agora, o objetivo passa também por retificar esses resultados?
Essas duas taças foram bem dolorosas para nós, porque as perdemos nos penáltis e sabemos que, nos penáltis, nem sempre vence o melhor. E também sabemos que, nos 90 minutos dessas duas finais, fomos superiores. Este ano as taças também são muito importantes para nós.
Duas finais perdidas para o Sporting, curiosamente o primeiro rival em 2020. Haverá espírito de "vingança" em Alvalade?
Vingança é uma palavra muito forte, apesar de o futebol ser um desporto muito competitivo. Sabemos que os nossos objetivos são muito maiores do que isso. Esse jogo com o Sporting vai ser muito difícil, mas vamos deixar isso para depois do réveillon. Sabemos que o mês de janeiro vai ser muito importante para nós.
Fevereiro também trará uma eliminatória difícil, na Liga Europa, com o Bayer Leverkusen.
O F. C. Porto merece estar sempre na Champions e não estarmos lá foi uma desilusão. Passado! Temos que pensar à frente e lutar na Liga Europa, prova muito competitiva e que valorizamos muito. Teremos um adversário que também tem um poderio muito grande, mas tenho a certeza que estaremos preparados. O nosso objetivo é ir o mais longe possível, chegar à final e vencer.
Se isso acontecer, vão disputar a Supertaça Europeia, que terá lugar no Estádio do Dragão. Isso já entra nas conversas de balneário?
É impossível não pensar nisso. A partir do momento em que entrámos na Liga Europa e ficámos a saber que a Supertaça será no Dragão, isso comove um jogador, faz-nos pensar no futuro. Mas, às vezes, pensar no futuro pode ser um pouco complicado. Temos de passar cada adversário com muita concentração e respeito, mas jogar a Supertaça Europeia no Dragão é um sonho que temos.
Acaba contrato em 2021. Caso o F. C. Porto chegue à Supertaça Europeia, no início de 2020/21, estará cá para ajudar o clube?
Tenho contrato e estou muito feliz aqui. A próxima época deixamos para pensar na próxima época. O meu objetivo é conquistar mais títulos com o F. C. Porto e dar o meu melhor com esta camisola.
Soma, esta época, quatro golos. O recorde são seis, no ano passado. Pretende subir essa fasquia?
Claro. Um jogador pensa sempre em melhorar. Um lateral esquerdo talvez se preocupe mais em defender, mas na nossa forma de jogar, através das minhas características de chegar lá na frente, estou a conseguir fazer isso com uma qualidade muito boa e a ajudar a equipa.
O golo ao Boavista foi eleito o melhor do mês. Treina muito o remate de meia distância?
É uma qualidade que tenho de colocar para fora. O Tiquinho [Soares] diz que tenho que chutar mais e o míster cobra-me muito isso. Contra o Boavista, fiz um golo bonito e fiquei aliviado por saber que não faço golos só de bola parada.
O míster sabe da gratidão que tenho por ele
Nunca se cansa?
Canso, canso. O ano passado fiz 53 jogos, foi aquele em que fiz mais. Fico muito feliz, mostra que o míster confia no meu trabalho. Ele sabe da gratidão que tenho por ele, por ter tirado o melhor de mim e me ter ajudado a chegar à seleção. Sabe que o respeito pelo trabalho, pela pessoa que é. Todos os jogos têm grande carga física, mas cuido-me para jogar a cada três dias.
Sérgio Conceição diz que fica com "uma azia dos diabos" quando não joga. É assim?
É normal. O que não é normal é um atleta ficar sempre no banco e estar feliz com isso. No F. C. Porto, fiquei pouquíssimas vezes no banco, mas respeito as decisões do treinador, todos têm qualidade para jogar.
Diz-se que o guarda-redes é a voz de comando da defesa. É diferente a forma de comunicar entre Casillas e Marchesín?
Pela sua experiência, não é preciso dizer o quão importante o Iker é no balneário. O Marche chegou com uma mentalidade diferente, mas passa-nos segurança como o Iker fazia. E o Diogo [Costa] também.
Já se sente portuense?
Desde que cheguei. É o primeiro clube onde fico mais de três anos. Sinto-me portista e portuense.
Ao passar nos Aliados fico com a convicção de que iremos lá voltar
Quais os sítios que mais gosta de visitar na cidade?
Sou caseiro, procuro descansar perto do mar, mas gosto de passear com a família no centro histórico. Por vezes passo nos Aliados, que me traz lembranças muito boas de há dois anos. Quando passo lá, sinto uma energia boa e fico com a convicção de que iremos voltar.
Vai mais pela francesinha ou pelas tripas à moda do Porto?
Não costumo comer isso, porque depois ali em cima [campo de treinos] é complicado. Prefiro as tripas, porque as francesinhas são mais fortes.
É um devoto de Nossa Senhora de Fátima. O que procura quando vai ao Santuário?
Sou uma pessoa com muita fé. Quando chego ao Santuário procuro desligar-me dos problemas do dia a dia, ficar ali em paz só a rezar. É um lugar tranquilo, permite relaxar para voltar bem ao trabalho.
Perfil
De Caxias do Sul até ser um ídolo no Dragão
Alex Telles
Idade: 27 anos
Posição: Defesa esquerdo
De Caxias do Sul (Estado do Rio Grande do Sul), onde nasceu a 15 de dezembro de 1992 e começou a carreira profissional no Juventude, até à Cidade Invicta, com passagens por Porto Alegre (Grêmio), Istambul (Galatasaray) e Milão (Inter), eis o percurso de Alex Telles. Com o "Gala" ganhou tudo na Turquia - Liga, Taça e Supertaça -, juntando a estes títulos, já ao serviço dos dragões, uma Liga portuguesa e uma Supertaça