Ansumane deixou a Guiné para ser futebolista profissional e sustenta 39 pessoas
O guineense Ansumane deixou o seu país há praticamente quatro anos e rumou a Portugal, para perseguir o sonho de se tornar futebolista profissional e ajudar a humilde e numerosa família, sendo hoje o principal sustento de 39 pessoas.
Corpo do artigo
"Não queria nunca deixar a minha família e vir para cá, mas ir atrás do meu sonho [futebolista profissional] e ajudar a minha família é tudo o que eu quero", disse Ansumane à agência Lusa, falando sem complexos das suas origens humildes e das "muitas dificuldades" que enfrentava diariamente.
Segundo o avançado do Freamunde, autor de dois dos quatro golos da equipa frente ao Vila Flor (4-0), na ronda inaugural do estreante Campeonato Nacional de Seniores, "a Guiné tem muito valor" e jogadores com muito talento, "mas falta tudo e mais alguma coisa".
"No meu caso, por exemplo, ia para a escola sem comer, ia treinar sem comer, jogávamos com bolas improvisadas, com o que havia, mas essa é a nossa realidade, é pobreza mesmo, mas por causa dela não podes desistir e tens de lutar", contou.
Ansumane, de 22 anos, começou ainda menino a jogar na rua, mas o seu talento não passou despercebido aos "observadores" e, através de um amigo, foi para o Benfica de Bissau, antes de se mudar para o Sporting local, aos 15 anos, que acabou por ser a porta de saída para um mundo novo em Portugal.
Passou três meses na Academia do Sporting, mas acabou por não ficar (ainda hoje desconhece as razões) e rumou ao Candal, inicialmente para manter a forma. Tinha idade júnior, mas bastou um treino para convencer os responsáveis do clube e rapidamente foi chamado à equipa principal. Seguiram-se Nogueirense, Ribeirão, na última época, e agora o Freamunde.
"A vida obrigou-me a ser adulto antes da hora. Mesmo na Guiné, por causa do meu pai, que era doente, tinha que ajudar e trabalhava muito com o meu irmão, em ferro, carpintaria, o que aparecesse. O meu pai morreu um ano depois de ter vindo para Portugal e a responsabilidade está toda sobre mim", afirmou.
Ansumane deixou na Guiné-Bissau mãe e pai, entretanto falecido, e 13 irmãos, que não vê há quatro anos e de quem mata saudades por telefone ou internet, numa família que foi ganhando novos elementos e que ele, na condição de futebolista amador, faz questão de sustentar.
"São 39 pessoas que estão na minha casa e a quem tenho de dar de comer. Consigo enviar dinheiro todos os meses [em média 200 euros] e tenho obrigação de os ajudar, porque que eles precisam, porque não têm mesmo", confirmou Ansumane.
O guineense diz preferir viver com pouco, apesar de conseguir "desenrascar sempre alguma coisa", para perseguir o sonho de ser profissional e representar um dia a seleção do seu país, prometendo um dia "voltar com orgulho", sem esconder as "muitas saudades" da família e, em especial, da mãe.
* da Agência Lusa