O presidente do Braga, António Salvador, contou a história de 20 anos ao leme do clube arsenalista e revelou quais foram os melhores momentos de duas décadas de trabalho, inclusive uma história caricata com André Villas-Boas.
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Numa entrevista concedida aos meios do clube na sequência dos 20 anos de presidência, António Salvador demonstrou a paixão que tem pelo futebol e pelo Braga, revelando ainda algumas histórias marcantes de duas décadas ao comando do clube arsenalista.
Paixão pelo futebol: "Desde muito novo que gosto de futebol, é um desporto que movimenta paixões. É quase impossível desligar desta paixão que se vive no dia-a-dia. É uma atividade muito intensa e todos os dias temos de estar em alerta. Passados 20 anos, as coisas têm corrido bem e estou mais motivado que nunca para continuar".
Inícios da presidência: "Naquela altura não contava ser presidente do Braga. Havia uma crise tremenda no clube, instabilidade financeira, mas o Eduardo Melo, mais conhecido como cónego Melo, disse-me que eu era a pessoa ideal para resolver os problemas do clube. Inicialmente recusei, mas tanto insistiram que me convenceram. Eu acreditava que era capaz. A primeira coisa que fiz foi resolver os problemas financeiros, depois foi reestruturar o pessoal e montar uma equipa".
Objetivos cumpridos: "Nunca pensei ser um dos presidentes mais antigos da Liga, quando assumi as funções não sonhava estar aqui durante 20 anos. Tinha três objetivos: resolver os problemas económicos, salvar o clube de descer de divisão e lutar por um lugar nas competições europeias. Todos eles foram cumpridos em dois/três anos, a partir daí a minha missão podia ter acabado mas felizmente não aconteceu".
Começo da década: "A conquista da Taça Intertoto, em 2008/09, foi sinal de mudança. Na época seguinte, foi quando o Braga esteve mais próximo de conquistar o campeonato nacional. O mais justo seria o título ir para o Braga, mas todos sabemos o que se passou nesse ano, houve momentos muito estranhos mas não vale a pena recordar isso, merecíamos ter sido campeões".
Final da Liga Europa e a história com Villas-Boas: "2010/11 foi uma época espetacular e encontrámos o melhor F. C. Porto dos últimos 20 anos na final da Liga Europa. Curiosamente, em 2009/10 a minha decisão para contratar um treinador estava entre o Domingos Paciência e o André Villas-Boas. Reuni com os dois mas optei pelo Domingos porque já estava a treinar a Académica. Então o Villas-Boas acabou por assumir a Académica".
Conquistas recentes: "Vencer a Taça de Portugal em 2015/16, 50 anos depois da primeira, entregue pelo presidente da República e sócio bracarense Marcelo Rebelo de Sousa, foi um momento de grande emoção para todos no clube e, essencialmente, para a cidade de Braga. Em 2019/20, a época não começou bem, mas com o Ruben Amorim senti a ambição dele e gostei da forma como lidava com o futebol. As coisas mudaram rapidamente e até conquistámos a Taça da Liga. Depois, o Sporting num duro golpe levou-nos o Ruben, foi um retrocesso. A vitória na Taça de Portugal em 2020/21 foi muito boa, mas num período complicado para a sociedade. Foi uma pena termos jogado num estádio vazio, só faltaram os adeptos para celebrar a conquista com o Carlos Carvalhal, um treinador que é de Braga e tem uma paixão imensa pelo clube".
Cidade Desportiva de Braga: É uma estrutura que tem cinco anos e em pouco tempo conseguimos um trabalho notável de crescimento de jogadores. A formação é um trabalho contínuo, amanhã temos de ser mais exigentes do que fomos até hoje. Passam pela Cidade Desportiva cerca de mil jovens diariamente, temos de formar atletas e homens. Na altura de apresentação do projeto, houve quem levantasse muitas questões, mas eu tinha a convicção que era este o caminho para o Braga e ao fim de cinco anos já percebemos que teríamos parado no tempo se não construíssemos a Cidade Desportiva".
Receitas e estádio: "Percebo que os adeptos pensem que se deve olhar primeiro para o plano desportivo e depois para o financeiro, mas está tudo interligado. Sem as receitas é praticamente impossível para um clube crescer. Temos mérito de todos os anos conseguirmos um bom plantel e o clube continuar bem financeiramente. A Pedreira [estádio] é um estádio bonito, mas reconhecemos que não tem as condições ideais para os adeptos. No futuro, seja com a Câmara Municipal ou outra entidade, terá de ser feita uma intervenção para melhorar a acessibilidade".
Futuro: "O Braga traçou um caminho de não ir contra ninguém nem a favor de ninguém, de fazer um caminho por si só e assim se tornou num clube que se evidenciou dos outros: tinha dificuldades e passou a estar mais próximo dos ditos três clubes que costumam ganhar em Portugal. Para o futuro queremos ganhar sem ser contra ninguém, o caminho para o sucesso tem de ser próprio".