Se, como eternizou Fernando Pessoa, "o homem é do tamanho do seu sonho", então Prince Choudary já era uma espécie de Gulliver quando ainda respirava os ares da adolescência.
Corpo do artigo
Por essa altura, com a cidade onde vive literalmente incendiada, usou uma libra para fundar um clube, tornou-se presidente, assumiu o cargo de treinador e ao sucesso desportivo tem aliado a proeza de alimentar um projeto social capaz de mudar vidas.
Prince Choudary não acordou um dia e lembrou-se de dar vida a um clube de futebol. Mas também não foi uma ideia que andou a remoer durante tempos infinitos. Afinal, em 2011 tinha mais era de estar virado para os estudos e passava a maior parte do tempo na mesma escola de onde viu como o bairro londrino de Croydon se desfazia pelas mãos de outros adolescentes. Os motins espalharam-se pela capital inglesa e por outras cidades do país, tiraram vidas e levaram à prisão demasiados jovens. Outros tiveram mais sorte e hoje representam o tal clube que Prince Choudary deu à luz.
O AC London tem resultados desportivos de que se orgulhar - começou por ter apenas uma equipa de juniores e nesta época já participou na Taça de Inglaterra -, mas é na faceta humanizadora que mais tem feito a diferença. Sir Choudary, como já o tratam para aqueles lados, viu no futebol a melhor possibilidade de desviar os adolescente de um destino manchado a sangue e garante de um cadastro pouco simpático, e a melhor ferramenta para combater preconceitos raciais, demasiado tatuados nos tempos que correm.
A palavra foi-se espalhando e, aos poucos, o AC London começou a fazer-se com gente, de Croydon e das redondezas, com quase nada a que se agarrar e com um passado largado em países tão distantes como Serra Leoa, Colômbia ou Venezuela. Ao todo, são 17 as nacionalidades que seguram o atual plantel deste emblema londrino e grande parte dos jogadores são mais velhos do que o presidente e treinador, hoje à porta dos 22 anos.
Do alto da ingenuidade que os 16 anos lhe desculpavam, Prince Choudary acreditou que podia mudar o Mundo, ou, pelo menos, pequenos mundos. E, cinco anos depois, já tem com que se orgulhar. Alguma razão Pessoa há de ter.