Apresentadas 79 queixas de racismo desde 2019 nos recintos desportivos portugueses
Insultos xenófobos continuam a ouvir-se nos recintos desportivos portugueses. Ao todo, desde 2019, foram apresentadas 79 queixas, 13 das quais dizem respeito a esta época.
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Há racismo, sim senhor. E há para dar e vender, principalmente nos recintos desportivos, mais nos estádios de futebol, onde (quase) tudo é permitido para insultar, minimizar, diminuir, humilhar os que vestem outras cores, defendem causas diferentes e jogam contra os nossos, independentemente do contexto, da divisão, do escalão e até da idade, como se estivessem numa realidade paralela, a reger-se por leis e morais diferentes. Se Espanha está um alvoroço por causa dos impropérios racistas que voltaram a castigar Vinícius Júnior, por cá a realidade também não é muito animadora.
O caso de Moussa Marega, em Guimarães na época 2019/20, foi o mais mediático e um dos mais reveladores do problema, mas esteve longe de ser o único: as denúncias relacionadas com atos discriminatórios, de racismo ou xenofobia, continuam a chegar à Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD).
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Em atividade desde 2019, a APVCD adiantou ao JN que ao longo do tempo de existência já lhe chegaram 79 denúncias de comportamentos racistas e xenófobos. Não há um travão e nem o avançar do tempo, que devia significar progresso e não retrocesso, abafa o preconceito. Nesta época já foram reportadas 13 denúncias, sintomático de como o problema persiste.
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As informações fornecidas esclarecem ainda que da totalidade das denúncias "30 foram encaminhadas para o Ministério Público por indícios de prática de crime", com as restantes 49 a resultarem em "processos de contraordenação", sendo que "12 encontram-se ainda em fase de instrução". Dos 37 processos concluídos "foi considerado pela APCVD ou pelo Tribunal (em sede de recurso judicial) não existir matéria de prova suficiente" e "em 12 não foi possível identificar o infrator".
Nem as crianças escapam
Encontrar os racistas e puni-los mantém-se como o passo que falta dar para fazer frente ao problema, com muitas denúncias a terminarem sem beliscar os acusados. A APCVD dá conta apenas de "19 decisões condenatórias de caráter definitivo e uma que aguarda trânsito em julgado". "Nas condenações entradas em vigor, foram também decididas 17 medidas de interdição de acesso a recintos desportivos por infrações relacionadas com racismo ou xenofobia, das quais 15 são referentes ao futebol", acrescenta a entidade.
Entre estas, encontram-se o adepto identificado depois de cuspir um "vai para a tua terra, macaco" e outro que abusou racialmente de uma criança de 12 anos.
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Interdições de acesso a recintos desportivos estão em vigor, sendo que 15 delas se referem a casos de racismo no futebol
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Processos foram concluídos sem provas para haver condenação e em 12 não foi possível identificar o infrator.