Holly Wood, árbitra de râguebi, escondeu a gravidez para poder continuar a trabalhar e apitou 25 jogos durante a gestação. Na hora de revelar a notícia, a Rugby Football Union fez questão de apresentar um documento escrito com uma política de gravidez, que não havia, para todas as árbitras não profissionais, que acabou por ser aceite.
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Alysia Montano, ex-atleta de fundo, Serena Williams, tenista, e Gesa Krause, do atletismo. São apenas alguns dos muitos nomes de mulheres ligadas ao desporto que mesmo grávidas quiseram continuar a competir e lutar contra o estigma de quem acha que o período de gestação - quando não é de risco - é uma sentença que as obriga a parar e impede de conciliar as ambições. Alysia competiu grávida mais do que uma vez para mostrar que as mulheres podem estar em forma enquanto constroem uma família, Serena venceu o Open da Austrália quando esperava pelo nascimento da filha e Krause correu cinco quilómetros grávida de cinco meses. Agora, a esta lista, junta-se o nome da inglesa Holly Wood.
A jovem inglesa é árbitra e ex-jogadora de râguebi e, quando soube que estava grávida, decidiu continuar a trabalhar. Para isso, escondeu a gestação de tudo e todos enquanto conseguiu. "Se eu quisesse continuar a trabalhar, sabia que ia ter de manter a minha gravidez em segredo. Tinha a certeza que se contasse à Rugby Football Union (RFU) me iam dizer logo para parar. Mas isso não estava, de todo, nos meus horizontes", contou Holly ao "The Telegraph". Desde que soube que esperava um bebé, Holly correu quilómetros e apitou um total de 25 jogos, mais 21 como assistente, abrangendo jogos da II Liga nacional masculina e de nível inferior, e da Premier 15s, até se ter despedido temporariamente das decisões depois do encontro entre as Harlequins e as Exeter Chiefs. "Foi um grande jogo para marcar a minha saída. Os meus abdominais começaram a esforçar-se um pouco quando estou a correr, por isso não poderei fazer o meu trabalho como deve ser por muito mais tempo."
Apesar da gravidez ter sido muito desejada, Holly não escondeu que teve vários receios. Por isso, pesquisou e leu muito, até que chegou à conclusão que o risco de ser derrubada ou tropeçar durante um jogo era muito baixo: "Quando se engravida, não se sabe se se vai realmente ter medo de entrar em campo. A minha mentalidade não mudou em nada. Eu queria continuar o máximo de tempo possível. Nunca foi uma questão na minha cabeça parar de arbitrar", vincou a árbitra. Depois, havia as questões laborais. Mas, neste caso, Holly tomou precauções. Apesar da reação da RFU ter sido a melhor quando soube da gravidez, a inglesa fez questão de apresentar um documento escrito com uma política de gravidez, que não havia, para todas as árbitras não profissionais. A resposta foi afirmativa, com o órgão a garantir que planeia implementá-la formalmente no final deste ano. "Sei que a forma como o fiz não é para todos, mas as atitudes na RFU estão a mudar. E isto também é muito importante para inspirar as mulheres a participarem mais no desporto, sem medo", sublinhou.
Ainda que a história de Holly Wood tenha tido um final feliz, nem todas as atletas puderam viver o mesmo. Prova disso foi o caso recente de Sara Bjork Gunnarsdóttir, agora jogadora da Juventus, que engravidou enquanto ainda representava o Lyon e viu o Lyon recusar-se a pagar-lhe mais salários. A jogadora acabou por apresentar queixa e a FIFA deu razão a Sara. A decisão do processo levantado pela FIFPro foi conhecida em maio e foi favorável à jogadora: o Lyon teria de pagar à jogadora todos os salários que lhe devia. O clube ainda tentou perceber se valia a pena avançar para recurso, mas acabou por acatar a decisão. Hoje, Sara Bjork Gunnarsdóttir é jogadora da Juventus e quer ser o exemplo para outras atletas, para não passarem pelo mesmo. "A vitória foi maior do que eu. Serve como uma garantia de segurança financeira para todas as jogadoras que queiram ter um filho durante a carreira. Queria garantir que ninguém passava pelo que passei. E queria que o Lyon soubesse que não é OK. Isto não é só negócio. Isto é sobre os meus direitos como trabalhadora, como mulher e ser humano. Merecemos melhor", escreveu numa carta aberta.