Em poucos meses, o ex-jogador festejou as promoções do Valladolid e do Cruzeiro, clubes dos quais é proprietário.
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É possível que tudo o que culminou com o regresso do Cruzeiro à elite do futebol brasileiro, a 22 de setembro, tenha origem entre o final da década de 1980 e o início da seguinte. Nessa altura, Ronaldo Nazário de Lima só tinha olhos para o Flamengo, mas o facto de não ter como suportar as viagens de autocarro que o levariam aos treinos do emblema carioca mudou-lhe os planos.
Acabou por aceitar fazer parte do modesto São Cristóvão, de onde sairia para o Cruzeiro, o clube que o catapultou para o olimpo do futebol. Quase 30 anos depois, veio a paga: num dos períodos mais negros da história da "raposa", Ronaldo estendeu-lhe a mão, o braço, tudo o que tem, e confirmou que também é um fenómeno como dirigente e proprietário.
Desportivamente em crise, financeiramente falido, com instalações carcomidas pelo tempo, o Cruzeiro era, em 2021, uma imitação barata do clube que venceu campeonatos e conquistou troféus internacionais. Despromovido em 2019, vinha de duas épocas desastrosas na Série B. Até que apareceu a luz ao fundo do túnel, a troco de 75 milhões de euros. "Eu não tinha a pretensão de fazer aquisições no Brasil, mas o Cruzeiro abriu-me as portas para o mundo", explicou-se Ronaldo, à imprensa brasileira. De repente, o futuro do clube vislumbrou-se minimamente prometedor.
O número de sócios aumentou imediatamente, a estrutura diretiva profissionalizou-se, a equipa de futebol foi entregue a Paulo Pezzolano, um dos mais promissores treinadores da América do Sul, o estádio voltou a encher. Meses depois, a "raposa" consumou o regresso à elite brasileira, com sete jornadas de antecedência. "Ainda sem palavras. Para minha vida, mais um capítulo de superação com o futebol. Pra nossa Raposa, o seu devido lugar: a elite do esporte", escreveu Ronaldo nas redes sociais, após mais um feito como dirigente.
Mas não é apenas o Cruzeiro a beneficiar da genialidade de Ronaldo, agora fora dos relvados.
O ex-craque brasileiro, que chegou a assumir planos de investir em Portugal, também é o acionista maioritário do Valladolid, clube que na altura da aquisição "não tinha património e tinha apenas dois jogadores com contrato". Nesse ano, em 2018, subiu à La Liga, de onde seria despromovido em 2021. Ainda assim, apenas um percalço, já que na temporada seguinte voltou a ser feliz e a festejar o regresso à elite.
Ou seja, 2022 não podia ter sido melhor para Ronaldo: entre junho e setembro, duas subidas de divisão e a noção clara de que, com ou sem a bola nos pés, ele nasceu mesmo para o futebol.