O Clube de Escalada de Braga acolhe no Estádio 1.º Maio crianças russas e ucranianas, que praticam desporto em sã convivência e dizem não entender a razão dos dois países estarem em guerra.
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No Clube de Escalada de Braga (CEB) multiplicam-se os sinais de união na diversidade, através do acolhimento de atletas, de várias nacionalidades, na prática de desporto. Num espaço próprio, no interior do mítico Estádio 1.º de Maio, quatro dezenas de jovens de ambos os sexos aplicam-se com afinco no treino, por onde também passam habitualmente uma centena de adultos. Portugueses, espanhóis, belgas, polacos e norte-americanos, entre outros, aproveitam para desenvolver capacidades motoras, como o equilíbrio, a coordenação e a força, na mira do fomento desportivo e de um maior conhecimento pessoal.
A fama do clube de fazer trabalho social, ao nível do desporto adaptado e com refugiados, chamou a atenção de jovens de Leste, de momento em Braga, fugidos da guerra. Há um ano, quando rebentou o conflito, não havia russos, nem ucranianos no CEB. Mas tudo mudou. Apareceu uma criança, outra a seguir e de repente já são seis, das duas nacionalidades. São os próprios jovens que divulgam a atividade, dão-se bem e não querem saber de rivalidades. "Fazemos com prazer este papel de integração. A guerra não é para miúdos. Queremos que esqueçam o mal que está a acontecer. Aqui fazem desporto, socializam e dão-se todos bem", destaca, ao JN, Filipe Costa, presidente e treinador do CEB, fundado em 2011, em Braga.
Enquanto se prepara para mais uma série de movimentos com os pés e as mãos, na parede, Uliana Beniukh dá conta do entusiasmo que nutre por estar ali. "Se gosto disto? Adoro!", diz a ucraniana, de 14 anos, a mais velha dos atletas de Leste, num português percetível. Está em Braga há oito meses, com a mãe e o padrasto e frequenta a Secundária de Maximinos. É de Kremenchuk, no centro da Ucrânia, cidade que em junho foi fustigada por um ataque russo a um centro comercial, onde faleceram 18 pessoas. Ao JN realça ter sido "bem recebida" no Minho, mas logo respira fundo e admite que "preferia estar" no próprio país.
Quando se lhe fala na guerra, Uliana perde o habitual sorriso e fica tensa. Conta que o padrasto é russo e que a família já viveu na Rússia, mas frisa não perceber os motivos do conflito. "Por mim não havia guerra", frisa, confirmando dar-se "muito bem" com Sofia Brodkina, uma menina russa de 10 anos, que também anda no CEB. "Somos muito amigas", adianta a jovem de São Petersburgo, que chegou em outubro e está matriculada no Colégio Luso Internacional de Braga (CLIB). O pai, Alexey Brodkin, é engenheiro informático. Ao JN, o progenitor conta que a família optou por mudar-se para Braga, por se tratar do "local ideal, num país bonito".
A filha, enquanto espera pela paz, acha que tudo poderia ser diferente. "Não consigo entender a guerra", diz, num tom emotivo.