Equipa de Xavi rema contra a maré num clube que continua a acumular problemas e processos judiciais fora do relvado.
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Não é estranho que o Barcelona tenha andado arredado dos grandes palcos e sentido muitas dificuldades para conquistar troféus - apenas dois nas três épocas anteriores. Surpreendente é que, tendo em conta tudo o que o tem rodeado nos últimos tempos, das finanças aos tribunais, de rescisões de contratos imprevistas à assinatura de outros muito nebulosos, até suspeitas de fraude e corrupção, esteja, nesta altura, a caminho de ganhar o campeonato, perto da final da Copa do Rey e já tenham conquistado a Supertaça. Uma espécie de milagre, que nem a pobre imagem europeia deve apagar, com Xavi Hernández a segurar um barco à deriva, com tantos problemas fora do campo que até chegaram a colocar em causa o futuro do gigante catalão.
O Barcelona tem uma capacidade de se auto-sabotar histórica, intrínseca, que até quem o respira desde sempre faz questão de notar. Basta recordar que Pep Guardiola foi contestado e minado até não aguentar mais, muito por causa da relação conflituosa com o presidente de então, Sandro Rosell, e que Lionel Messi foi empurrado para longe, depois de renovações sistemáticas e milionárias que contribuíram para a má saúde financeira que o clube vem arrastando. O mais simbólico, e que ainda está por esclarecer, talvez seja aquele que se eternizará como "Barçagate" e que levou à detenção do ex-presidente Josep Maria Bartomeu e outros dirigentes, acusados de contratarem uma empresa com o objetivo de denegrir a imagem de pessoas ligadas ao clube e desportistas em atividade, entre eles Messi, Piqué e Xavi, e até familiares.
Na semana passada, o jornal "Sport" deu conta de que o Barcelona está, neste momento, envolvido em oito processos judiciais, que não só lhe mancham a imagem como dificultam a concretização de objetivos desportivos. O último escândalo é o "caso Negreira", que levanta a possibilidade de o Barça ter corrompido árbitros através José María Enríquez Negreira, ex-vice presidente do Comité Técnico de Árbitros. FIFA e UEFA já estão metidos ao barulho. O Barcelona lida ainda com alegadas irregularidades na inscrição de futebolistas, está numa luta judicial com a La Liga por esta o ter impedido de aumentar a massa salarial em 15% e até no futebol feminino há confusão, com o recurso a tribunais para tentar a eliminação da Taça do Rei, por uso indevido de uma jogadora.
Ainda assim, e enquanto Joan Laporta não tem mãos a medir fora do campo, o Barcelona vai resistindo no campo e continua a evitar que a crise institucional alastre para os relvados.