Vencedora de sete medalhas olímpicas, quatro de ouro, uma de prata e duas de bronze, a ginasta Simone Biles está de regresso aos treinos e à competição – conquistou o US Classic - após dois anos de paragem devido a problemas de saúde mental. Os Jogos Olímpicos de Paris, no próximo ano, podem ser o próximo desafio.
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Ansiedade e pressão. Foram essas as razões que alegou, nos últimos Jogos Olímpicos, de não participar na final feminina por equipas e também na final do all-around, assim como na dos aparelhos. A atleta norte-americana, na altura com 23 anos, sucumbiu em Tóquio à pressão competitiva e dos media, que a faziam sentir-se cada vez menos confiante. Até ao abismo foi um passo. Numa decisão pouco habitual no desporto de alta competição, deixou a ginástica e entregou-se à terapia. Não era só o presente que incomodava, um passado repleto de obstáculos não a deixava também ir para a frente.
Nascida em Columbus, no Ohio, a infância foi tudo menos fácil. Quando tinha apenas três anos, Simone e os três irmãos foram entregues para adoção pela mãe toxicodependente. O avô materno acabou por salvá-los de um futuro incerto ao tomar conta da sua educação. Numa atmosfera segura, dedicou-se desde muito cedo à ginástica, com apenas seis anos começou a treinar regulamente e aos 14 já competia ao mais alto nível. Em 2013, nos Mundiais de Antuérpia, venceu as primeiras medalhas, que se repetiram nos Mundiais seguintes, comemorando 25, no total. Número que nenhuma ginasta tinha atingido, o que imediatamente a tornou, para muitos especialistas, na melhor ginasta de todos os tempos. Pelo meio, explodiu a nível planetário ao arrecadar quatro medalhas de ouro e uma de bronze em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Tornou-se um ícone global, porém Simone ia decair a olhos vistos.
Em 2019, o irmão Tevin foi acusado de triplo homicídio por alegadamente ter participado num tiroteio em Nova Iorque e o episódio deixou marcas profundas em Simone, apesar de, dois anos depois, ter sido absolvido de todas as acusações. Antes, em janeiro de 2018, garantiu que foi vítima de abuso sexual por parte do antigo osteopata da Federação de Ginástica dos Estados Unidos, Larry Nassar, a que se seguiram acusações formais de mais 90 atletas.
A sua autobiografia, publicada em 2017, tocou em feridas que mais tarde viriam a assombrá-la. Falou da pressão desmedida sentida pelos atletas profissionais e de demónios, filhos de um passado doloroso. Em 2021, em Tóquio, tudo de desmoronou. Nas qualificações, cometeu erros que não eram habituais mas, ainda assim, apurou-se para as finais. No entanto, os demónios falaram mais alto e deixou cair tudo por terra nos dias anteriores às finais. No auge do descontrolo, chorou com os nervos em franja e acrescentou que a sua vida naquele momento não tinha divertimento, só busca pela perfeição. Decidiu parar.
Durante os dois anos em que não competiu, dedicou-se de alma e coração ao tratamento psicológico e ao namorado Jonathan Owens, jogador de futebol americano dos Green Bay Packers. Casaram em 22 de abril e desde aí Biles ganhou estabilidade emocional, o suficiente para regressar aos treinos e às vitórias. Ontem, venceu o US Classic, em Chicago, o primeiro triunfo desde os Jogos Olímpicos e, no pódio, a pequena Simone sorriu perante o aplauso esmagador do público, emocionado com o seu regresso. Os Jogos Olímpicos de Paris arrancam em 26 de julho de 2024, Simone ainda irá a tempo de nos surpreender?