Bruno de Carvalho fala sobre presidência "Sem filtro".
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Que objetivo procura alcançar com a publicação deste livro?
Sempre disse que quando saísse do Sporting iria fazer um livro sobre a minha presidência. Pretendo dar a conhecer, aos sportinguistas e aos adeptos de todos os clubes, o que é ser presidente no futebol. Não tenho outro objetivo.
Teme vir a ser processado por escrever um livro "Sem filtro"?
Estou absolutamente descansado. Com o sucesso que está a ter, penso estar alcançado o objetivo de as pessoas terem um bocadinho mais de conhecimento deste mundo onde vivi, do trabalho que fiz, das coisas hilariantes que passei e das coisas mais graves.
O Sporting fica prejudicado?
Não. Ninguém sai prejudicado com este livro. É um conjunto de histórias sobre o Sporting. Apenas vai enriquecer.
Dos três treinadores com quem trabalhou, o único que não merece crítica é Leonardo Jardim.
O Leonardo é muito assertivo no trabalho. E fora do trabalho é um indivíduo com uma maneira de ser e estar que me agrada muito. Como diria a Cesária Évora, "Saudade, saudade...". Foi o que deixou. Com uma equipa quase toda da formação, ficámos no segundo lugar, apurados diretamente para a Champions, vindos da pior época de sempre da história do clube.
Qual foi o maior erro: Marco Silva ou Jorge Jesus?
Os dois foram um grande erro. O Jorge acaba por ser um erro maior pelos números...
Do salário e das contratações...
Sim. Infelizmente, foram os dois um erro nos objetivos desportivos. Ao Jorge Jesus foram dadas todas as condições possíveis e imaginárias. Associado ao salário, acabou por ser um erro muito grande.
Fala no livro que a reestruturação do Sporting e a sua viabilidade está assegurada até 2024. Esta nova Direção coloca isso em causa?
Os sportinguistas foram votar, escolheram um caminho que não seria o meu. Prefiro não dar grandes opiniões. Eu não seguia o caminho que está a ser seguido.
Qual seria o seu caminho?
Continuar o meu projeto. Não faria as coisas da mesma forma, mas [Varandas] é uma escolha legítima. Neste momento, não coloco em causa as opções dos sportinguistas.
Lembrando o episódio que conta, quando coloca um pé no jacuzzi, pensa em Jorge Mendes?
Não, não me lembro do Jorge Mendes. Infelizmente, vou-me lembrando dele, porque começa a ter uma influência no Sporting... Não seria o meu caminho.
O Benfica é um poder estabelecido?
Não tenho dúvidas nenhumas e já foi dito muitas vezes pelo presidente do próprio Benfica: são uma força nacional e com muito poder. Percebemos que esse poder envolve muita coisa. Os jogos fora das quatro linhas contam para ser campeão.
O atual Sporting tem essa capacidade de lutar nos bastidores?
O atual Sporting desistiu dessa luta. É uma luta difícil, dá trabalho.
Foi o que pediu a Octávio Machado?
Faz essa pergunta porque o Octávio é do Benfica? Pode ter-se pensado num tipo de funções para o Octávio, e estou a falar do Jorge Jesus, que eu jamais admitiria no Sporting. Jogos de bastidores... Todos temos de ouvir a música e dançar ao ritmo dela. Mas nunca cometer ilegalidades.
Isso foi-lhe sugerido?
Não foi sugerido. Mas foi-me explicado como é que as coisas funcionavam.
Relata um episódio com o presidente do F. C. Porto. Que impressão lhe deixou?
O Pinto da Costa foi muito diferente desde que nos conhecemos pessoalmente. É uma pessoa muito distinta, sempre preocupado com o bem-estar. O nosso relacionamento não era o melhor, mas depois fiquei com uma belíssima imagem do Pinto da Costa.
Pinto da Costa garantiu que não ia roubar jogadores ao Sporting. Não teve garantia do Benfica...
Não.
Tinha noção de que Vieira ia tentar levar algum jogador?
Tenho a certeza absoluta que tinha vontade. E tenho a certeza absoluta que foi muito desaconselhado pelos advogados e pelos outros administradores. Era um risco muito elevado. Aliás, os clubes que levaram os jogadores correram um risco que lhes vai sair caro. A não ser que a atual Direção, como já fez, chegue a acordo... Para mim, voltamos atrás.
Considera prejudicial o acordo que Varandas fez com o Wolverhampton por Rui Patrício?
Se assumiu a dívida perante Jorge Mendes ou se a está a pagar noutros negócios, sim. Chegámos a ter um jogador que nunca jogou, veio por intermédio do Jorge Mendes.
Está a falar de quem?
Do italiano Sturaro. Não consigo dizer mais, porque não conheço os contornos. Mas consigo dizer que o William tinha de ser vendido e a venda foi muito mal feita. Havia propostas maiores em cima da mesa.
E em relação a Gelson Martins?
Este era um ano muito importante. A aposta era total, para o Sporting ser campeão. Para isso, o Rui e o William já não contavam, porque queriam sair há muito tempo. Mas o treinador insistia sempre para não saírem. O Gelson era para fazer mais um ano e sair.
No final do livro, promete uma segunda parte. O que pode prometer em concreto?
Cinco anos e meio não se traduzem em 200 páginas. Vou ver a reação das pessoas. Se calhar, vou propor à editora, se tiver grande sucesso, fazermos mais um livro.
Tem mais histórias para contar?
Não podíamos logo dar tudo aos leitores. Este livro está muito bom, engraçado, mas há muito mais histórias de bastidores que são interessantes para vermos se faremos um "Sem filtro II". Nos filmes, as sequelas não são tão boas como o primeiro... Temos que assegurar que o segundo livro será tão bom como o primeiro.
E esse novo livro virá acompanhado de uma candidatura à presidência?
Não penso nisso. Tive cinco anos e meio onde, apesar de todas as adversidades, fui o homem mais feliz do Mundo. Neste momento, estou a redescobrir-me, porque tenho tempo para mim, para a minha família, para as minhas filhas.
No livro, diz que José Maria Ricciardi se ajoelhou a seus pés, mas admite um desmentido...
É uma imagem que ficou gravada na minha cabeça para o resto da vida. Nunca tinha tido um homem de joelhos à minha frente. É extremamente orgulhoso para admitir. Mas que fez... fez.
Pelo que diz no livro, Ricciardi foi o obreiro dos acontecimentos que levaram à sua destituição, tendo como aliados Álvaro Sobrinho e Jaime Marta Soares.
Basta ver o que se passou na assembleia destitutiva. O Álvaro Sobrinho chegou e disse aos sportinguistas, a horas de saber o resultado: "O Bruno já foi".
Também inclui o atual presidente, Frederico Varandas, tal como o irmão, João Pedro, e Rogério Alves, presidente da mesa da Assembleia-Geral.
Não fui eu que fiz um filme do que aconteceu, a rir-me. Não escrevi a carta que os jogadores publicaram. Não dei conselhos, para rescisões e processos de suspensão a decorrer. Varandas fez a primeira, depois dizem que o irmão dele fez a carta, com o Rogério Alves, que trabalha com ele...
O que causou o ataque?
Há o acontecimento e a via política. Tem tudo a ver com o que aconteceu na Madeira, a troca de palavras azedas e a ida de um adepto ao aeroporto. Choca-me como furou um cordão policial.
Fernando Mendes?
Sim. Esse confronto com um ex-líder, mas ainda honorariamente líder de uma claque [Juve Leo], origina o que aconteceu. E depois o lado político. O acontecimento fez com que uma máquina muito desconjuntada ganhasse forma e aproveitasse. Aí entram, como se diz nos bastidores, os Varandas, o Ricciardi e o Sobrinho.
E o que diz de Pedro Silveira [gaming do Sporting]? Alegadamente, integrava a conversa de Whatsapp onde foi combinado o ataque.
É um dos muitos mistérios. É um mistério estar lá [na conversa] e não sofrer consequência. É a pessoa que dizia que quando quisesse o presidente [Varandas] caía. Também fez um "grande comício" de três ou quatro pessoas, para que eu me retirasse.
Ainda acusa Eduarda Proença de Carvalho de ter um papel ativo na sua destituição.
É outro mistério. O tribunal recusou ouvir Jesus. Sou católico. Nunca recusaria ouvir Jesus, mas o tribunal acha que uma pessoa que esteve por dentro do que aconteceu não é importante. A Eduarda estava numa posição de apoio e a dar algum carinho e conforto...
Mas depois fala com Jesus em Alcochete e...
Fica alterada. O que Jesus disse, não sei. Mas transformou-a. Tirem as ilações. É uma pessoa que trabalha num dos gabinetes de advocacia mais ativos do Sporting. Recebem bastante dinheiro por causa dessa proximidade. Se acho isso normal? Não. Estamos a falar de um gabinete de advocacia onde, por exemplo, onde trabalha o presidente do Grupo Stromp [Tito Arantes Fontes]...