Futebol luso tem saldo positivo de 184 milhões de euros nas últimas cinco janelas de transferência de inverno. É a exceção entre os seis principais campeonatos da Europa.
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Trinta e um dias para reajustar e reforçar plantéis, um mês inteiro a meio da época que deixa os treinadores, sobretudo os portugueses, com o coração nas mãos, perante o receio de verem fugir as principais joias da coroa. Janeiro é sinónimo de mercado de inverno e, nos últimos cinco anos, mostrou que Portugal é, sobretudo, um país que valoriza atletas para, depois, os vender por quantias bem mais elevadas. Desde 2017 que a Liga portuguesa é a única, entre as seis principais da Europa, a ter lucro com as transferências de jogadores. O saldo positivo foi de 184 milhões de euros (M€) e constrasta, em absoluto, com o que se passa nos "big 5", com destaque para a Inglaterra que, neste período, "perdeu" 395M€.
A segunda janela de transferências da temporada é motivo de discórdia e muitos são os treinadores que defendem que não devia existir, já que pode desvirtuar a verdade desportiva, mas também é uma excelente oportunidade de negócio e os clubes portugueses que o digam. Em 2020, por exemplo, o Sporting vendeu Bruno Fernandes ao Manchester United por 63M€ e, em 2021, gastou 16M€ para resgatar Paulinho ao Braga.
E, numa altura em que o futebol mundial ainda procura recuperar o ímpeto travado pela covid-19, é muito provável que janeiro de 2022 não seja ainda um regresso à normalidade, mas... "Pensávamos que, por esta altura, já estaríamos livres da pandemia, mas não. Julgo que vai ser um ano de continuidade na falta de investimento, porque a grande maioria dos clubes tem muitas preocupações financeiras. Mas há as exceções dos clubes-estado, como o Man. City, o PSG ou o Newcastle. Um movimento deles no mercado pode ter um efeito-dominó que beneficie, por exemplo, os clubes portugueses", explica, ao JN, Artur Fernandes, presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol.
"Vai depender muito do mercado externo, com um efeito bola de neve. Se sair um jogador de um grande português, esse clube pode contratar a um Braga ou a um V. Guimarães que, por sua vez, podem reforçar-se mais abaixo. Vai ser um mercado calmo, por causa da covid", concorda o empresário Nuno Correia, que não tem dúvidas da razão pela qual Portugal é o único país a ter lucro em janeiro.
"Primeiro porque não se pode dar ao luxo de comprar um jogador por 50M€. Os poucos clubes que podem comprar por 10M€ têm a oportunidade de, depois, vender por 50M€. É por aí que se nota a discrepância com os outros países. Portugal é visto como um filtro de qualidade na captação de jogadores sul-americanos e africanos, porque os países mais ricos sabem que, por cá, se faz muito com pouco", acrescenta Nuno Correia.
Palhinha, Díaz e Núñez
Artur Fernandes não acredita que surja uma "venda megalómana" - "os treinadores não querem perder os mais importantes" -, mas não hesita em apontar quem pode furar esta convicção, escolhendo um trio que também é eleito por Nuno Correia. A qualidade de Palhinha, do Sporting, Luis Díaz, do F. C. Porto, e Darwin Núñez, do Benfica, pode levar a que um tubarão se aproxime das cláusulas de rescisão. As contas agradecem, os adeptos nem por isso.