Modalidade atravessa grande momento e nunca teve tantos praticantes. Presidente da Federação quer apoios
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A canoagem fechou com chave de ouro o ciclo olímpico 2016-2021, ao conseguir cinco medalhas nos Mundiais realizados na semana passada em Copenhaga, que se juntam às duas conquistadas por Fernando Pimenta e Norberto Mourão nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. Num ano em que a modalidade viu subir o número de praticantes para números inéditos (os atletas federados são, pela primeira vez, mais de 3000, mesmo com a pandemia), os resultados acompanham um crescimento sustentado, tornando-se uma referência em Portugal. A nível olímpico, só mesmo o atletismo consegue igualar a canoagem desde 2012.
"É um orgulho para mim poder comparar a nossa modalidade com o atletismo. Qual é o segredo? Penso que temos a melhor geração de sempre a chegar ao auge e é com eles que queremos continuar a lutar por posições de pódio nos Jogos de Paris 2024", diz, ao JN, Vítor Félix, presidente da Federação de Canoagem, ciente de que atletas como Pimenta, Emanuel Silva, Teresa Portela ou João Ribeiro serão "quase impossíveis de substituir" na geração seguinte: "Acontecerá o mesmo na seleção de futebol quando Cristiano Ronaldo deixar de jogar. A fasquia está muito elevada".
Contabilizando os resultados de Copenhaga, Portugal soma 30 títulos europeus e 16 mundiais, embora se deva dizer que, das cinco medalhas conseguidas na capital dinamarquesa, apenas duas sejam de distâncias olímpicas (o ouro no K1 1000 de Pimenta e a prata no VL2 de Mourão). Numa competição que se seguiu aos Jogos Olímpicos, o contexto foi favorável e muito bem aproveitado: "Foi bom para a modalidade e para o desporto português, mas temos de começar a elaborar uma estratégia a pensar em Los Angeles 2028 e em Brisbane 2032", refere o líder federativo, que vai concorrer ao terceiro mandato seguido nas próximas eleições, frisando que a canoagem precisa de mais apoios.
"A Federação recebe pouco, tanto do Governo como dos patrocinadores, para os resultados que tem tido. O dinheiro não é tudo, mas serve para fazer mais estágios, para levar mais atletas às provas, para contratar treinadores. Com pouco, temos feito muito", sublinha Vítor Félix, com palavras especiais para Fernando Pimenta, 107 vezes medalhado em provas internacionais desde os escalões jovens: "Dele podemos esperar tudo. Já foi prata e bronze em Jogos Olímpicos e é justo que possa lutar por ser campeão em Paris. Ele persegue esse grande objetivo e todos acreditamos que é possível".
O quartel-general onde o sucesso começa *
O Centro de Alto Rendimento (CAR) de Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra, constituiu um investimento público na ordem dos 27 milhões, que tem sido pago com sucesso desportivo por parte da canoagem lusa. Nos últimos dois meses, foram sete medalhas, entre uma olímpica, uma paralímpica e cinco nos mundiais. Entre 2010 (ano em que começou a receber competições, apesar de só ter sido inaugurado oficialmente em 2013) e 2020, período em que o CAR tem funcionado como a casa dos canoístas, Portugal já conquistou 173 medalhas em competições seniores internacionais.
"O Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, projetado para acolher as modalidades de canoagem, natação, remo e triatlo, enquadra-se no âmbito do desenvolvimento do alto rendimento desportivo a nível nacional, por via da criação de infraestruturas únicas que, beneficiando das condições ímpares do Baixo Mondego, se revelam num espaço de excelência para o treino e competição a nível internacional. Este padrão de qualidade é um foco primordial de atração de atletas e de adeptos", lê-se na nota explicativa da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho.
A estrutura é constituída por um plano de água, com 2000 metros de extensão, 135 metros de largura e 3,5 metros de profundidade. Conta ainda com uma pista de retorno, um canal de aquecimento e arrefecimento, um percurso ciclável ao longo dos planos de água, assim como uma via técnica para apoio ao treino, hangares, balneários, ginásio, sauna e salas polivalentes. Para além dos atletas portugueses, tem sido o local escolhido para estágio para seleções internacionais, para além de ter sido palco de várias provas, como os Mundiais de 2018.
tempestade fez mossa
Em dezembro de 2019, o mau tempo que se fez sentir na região destruiu material e tornou o espaço submerso. Os prejuízos foram na ordem dos 600 mil euros. "Montemor-o-Velho é a nossa base logística. Temos aqui uma série de material de apoio às provas que tentamos proteger. Infelizmente, a água subiu um pouco mais do que o esperado. Certamente o CAR vai ter prejuízos e danos muito graves no funcionamento", lamentou, na altura, o vice-presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, Ricardo Machado.
* João Pedro Campos