Os piores receios não se confirmam e o campeonato termina sem percalços de maior e cheio de brilho no relvado.
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Nasceu torto, cresceu torto, mas não morre tão torto quanto isso. O Catar esteve debaixo de fogo, quase sempre por questões extrafutebol, resistiu, comeu e calou o que entende serem abusos a algumas leis que lhe correm nas veias todos os dias, fechou os olhos a outros e sai de fininho sem polémicas de maior fora do campo e com um rol de vitórias no relvado. Na final, dois craques do Paris Saint-Germain, que é controlado pelo milionário e controverso emirado do Golfo Pérsico através do fundo Qatar Sports Investiment, acima de todos os outros mortais que por lá andaram, e o campeão Messi até ergueu a taça vestido a preceito com uma espécie de túnica só reservada aos emires. Chamar-lhe emir, contudo, já é escasso.
Os receios foram muitos, as queixas também. Todos e todas com fundamento. O Catar não devia ter organizado o 22.º Mundial de Futebol, depois construiu-se quase todo de raiz para a ocasião, cometendo e repetindo atropelos vários aos mais básicos direitos humanos. Com razão, chegou a temer-se o pior durante o mês em que o futebol parou no resto do planeta para se concentrar naqueles míseros metros quadrados - nunca um país tão pequeno organizou um Campeonato do Mundo -, mas os alertas, a atenção mediática e os reparos valeram a pena. As polémicas e os problemas foram exceções, sendo que a maioria esteve relacionada com a ostracização imposta aos homossexuais no país mais endinheirado do Mundo.
Os protestos fizeram-se com recurso a uma imagem histórica dos jogadores alemães com as mãos a tapar a boca, devido à lei do silêncio a que todos estiveram sujeitos durante a competição, a peças de vestuário e braçadeiras cuja entrada nos estádios estava vetada e até a uma invasão de campo. Não foi pouco, claro - foi demasiado até -, mas tendo em conta que as expectativas apontavam para muito pior...... Confrontos e problemas com adeptos quase não houve, justificando a razão de existir de entidades como o Centro Internacional para a Segurança no Desporto (ICSS), cuja génese e financiamento estão no Catar, também envolvido na criação da SIGA (Aliança Global pela Integridade do Desporto). Manobras de diversão, contestam muitos.
No relvado, dificilmente podia ter corrido melhor para o Catar e apenas a desfeita da seleção, eliminada sem conquistar qualquer ponto, impediu o pleno. Gianni Infantino, presidente da FIFA, defendeu que este foi o melhor Mundial de sempre e não andará muito longe da verdade. A final de ontem foi a cereja no topo do bolo.
VENCEDORES DOS MUNDIAIS
1930 Uruguai
1934 Itália
1938 Itália
1950 Uruguai
1954 Alemanha (RFA)
1958 Brasil
1962 Brasil
1966 Inglaterra
1970 Brasil
1974 Alemanha (RFA)
1978 Argentina
1982 Itália
1986 Argentina
1990 Alemanha (RFA)
1994 Brasil
1998 França
2002 Brasil
2006 Itália
2010 Espanha
2014 Alemanha
2018 França
2022 Argentina