"Somos muito mais do que um clube". A frase poderia pertencer a um simples adepto do Barcelona, fazendo menção ao lema adoptado pelo colosso espanhol, em 1968. Mas não. Foi proferida por António Pereira, presidente do Cerco do Porto, emblema com tradição no Campeonato Amador da A. F. Porto e que, tal como os culés, não se cansa de ganhar. Em 25 jogos disputados na presente temporada, o conjunto portuense ganhou 18 e empatou sete, condição que lhe permite liderar a fase de apuramento de campeão.
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Mas nem só pelas conquistas, dentro de campo, é que o Cerco do Porto é notícia. A imagem que o problemático bairro que dá nome ao clube transmite leva a que muitas vezes a equipa de futebol seja, a reboque, conotada como "arruaceira". Porém, os números espelham o contrário. As duas expulsões em todo o campeonato realçam que a equipa comandada pela dupla Nuno Gonçalves e José Neves contrariam esse rótulo, demonstrando que, com as exibições de gala protagonizadas a plateias com mais de um milhar de espectadores, merecem ser apelidados como o "Barcelona dos Amadores".
"Estávamos à espera de fazer um bom campeonato, mas nunca nos passou pela cabeça que estaríamos tantos jogos sem perder. No entanto, a equipa tem dado uma grande resposta e está determinada em se sagrar campeã", frisou Nuno Neves, assegurando que a "humildade e determinação da equipa não tem nada a ver com a imagem que o bairro passa".
Respira-se bairrismo
Dupla de sucesso no comando daquela que é considerada a melhor equipa do campeonato, Nuno e Neves sentem o clube com grande fervor, ao ponto de terem colocado à direcção um projecto que os faz abdicar de trocar o clube por propostas tentadoras.
"Solicitámos à direcção que criasse uma academia para acolher as centenas de crianças do bairro. Além da vertente desportiva, estaríamos a tirar muitas crianças dos maus caminhos. Contudo, além desse projecto seria interessante que o clube pudesse competir nos distritais, pois poderia ter um crescimento muito interessante", frisou José Neves. Nuno Gonçalves partilha da mesma opinião, ao ponto de "abdicar de qualquer proposta, seja ela qual for, para continuar a trabalhar, de borla, em prol do clube". Cenário pouco visto nos dias de hoje...
António Pereira mostra-se "entusiasmado" com o projecto dos técnicos, mas assegura que "além da prometida requalificação da sede, que é o projecto mais importante do clube, seriam necessários alguns patrocínios" para que o este sobrevivesse. Algo que não será complicado para um emblema em que respirar bairrismo é uma forma de vida.